sábado, 25 de junho de 2016

O SOLDADO MORRUDO DO QUARAI

CONTO Nº 03/2016 do LIVRO TOQUE DO CLARIM !
 Por: 1º  Ten RR  José Oripe - "O Professor"

No inicio da década de oitenta, junto com os novos soldados formados pelo Segundo Regimento de Policia Montada sediado em Livramento-RS, chegou ao quartel de Alegrete, um soldado reculuta de apelido "MORRUDO".
Era ainda um garoto, bastante jovem na idade, e muito disposto, falastrão e voluntário, jamais refugando qualquer missão.  Como se diz pela fronteira a fora, não enjeitava parada.
Havia no Esquadrão de Alegrete, um cavalo tostado, calçado das duas patas da frente, mas só que tinha um problema com ele, era um bicho mal domado, redomão das ventas rasgadas, cheio de baldas e manias adquiridas durante o período de doma. Ruim de cima, ruim de baixo, e atoa da boca, o dito animal era uma praga quando inventava de corcovear ninguém lhe sujeitava, e até já tinha derrubado dois ou três ginetes pelo rio grande a fora.
Os reiunos comentavam na tropa que dera um tombo em um oficial e por isso tinha sido mandado para os quarteis destacados na faixa de fronteira gaúcha.
O brigadianos que cuidavam dos cavalos e das baias, foram surpreendidos em um final de tarde, quando de repente, viram saindo das cocheiras o soldado reculuta puxando o redomão por um cabresto de couro cru.
Inquirido pelos praças mais antigos, o gurizão respondeu:  - Hoje esse aporreado vai perder todas as coscas e as baldas, e dando pouca atenção aos presentes, com ares de estrela, tratou logo de ir se preparando para montar.
Nisso, o soldado Paredes, índio acostumado na lida, lhe recomendou em tom de voz severa: - Cuidado com esse cavalo em guri? Esse bicho já quebrou meia dúzia de brigadianos que se diziam bons nos arreios.
Deixa pra mim colega que agora ele vai se deparar com o "MORRUDO VÉIO DO QUARAI".
E dizendo isso, montou.
Quero dizer: quase montou pois pra falar bem a verdade, não chegou nem a encostar a bunda no lombo do matungo.
Em um segundo o bicho arqueou o lombo e se curvou parecendo até que iria sair rolando e ato continuo, atirou longe o incauto ginete. Gente do céu ! Que tombo feio foi esse ! barbaridade!
Ato continuo, o cavalo com ares de vencedor, deu uma rabanada e saiu bufando campo a fora, deixando como resultado daquela sua façanha o soldado "MORRUDO" estendido na quadra de futebol de salão que ficava um metro abaixo de onde ocorreu o episódio.
Nem precisa dizer que foi uma correria dos diachos e como sempre aconteceram piadas e xingamentos em torno do assunto, pelos reiunos da caserna, enquanto o rapaz era socorrido.
O saldo dessa façanha foi que o reculuta MORRUDO, resultou com uma das mãos fraturadas e diversas escoriações pelo corpo todo.
O oficial comandante do aquartelamento na época, mandou então levar o cavalo para Livramento onde foi solto nos campos da Fazenda Lolita situada nos Cerros Verdes, onde morreu de velho.


OBS: Quem foi o Sd MORRUDO:
 Um valoroso Soldado de Policia Militar, meu amigo e colega de farda, com o qual eu tive o prazer de treinar e preparar para a vida profissional, Seu nome DEROCI GONÇALVES BRANDOLT, infelizmente "foi morto tragicamerne" na localidade de Passo Novo vitima de emboscada covarde. Seu assassino foi preso em flagrante por mim na época 2º Sargento PM e pelo Soldado PM VANDERLEI RIBEIRO.


sábado, 11 de junho de 2016

O PM BICHO DO ANGICO E O SEU CAVALO ZERO HORA.

CONTO Nº 02/2016 do LIVRO TOQUE DO CLARIM !
 Por: 1º  Ten RR  José Oripe - "O Professor".

HOMENAGEM PÓSTUMA 
"Dedico esse conto ao meu grande amigo e colega Soldado Policial Militar DERLI ANCINELO COLLIN, uma pessoa impar, e digna dos mais altos elogios. Tive o prazer de servir na Caserna em Alegrete com esse valoroso Soldado, o qual foi um grande orientador e meu incentivador para que um dia eu chegasse na carreira ao Posto de Oficial onde cheguei. Essa foi a minha maneira de lhe agradecer por tudo meu velho e inesquecível amigo, colega e conselheiro Soldado COLIN". 

O Alegrete, encravado na fronteira oeste do RS, tem entre seus filhos ilustres grandes nomes, homens e mulheres maravilhosos que marcaram época nesta terra. Alguns o fizeram de forma internacional. Ex: Osvaldo Aranha, Nehyta Ramos, José Antonio.Flores da Cunha, e outros mais a nível local, e é exatamente aí que se localiza o nosso personagem deste episódio: Um Soldado de Policia Militar oriundo dos tempos dos famosos Rurais. Caso você não saiba quem eram os "Rurais" carinhosamente apelidados, foram valorosos Policiais Militares que muito fizeram pelo nosso Estado Gaúcho na década dos anos sessenta e meados de setenta. (1960-1970). 
                          O veterano Derly era um remanescente dessa época. Figura lendária e exótica ao extremo, um caso impar em todo o sentido; um autentico gaúcho monarca.
O gaudério Derly, morava na Vila Capão do Angico e seu deslocamento para o Quartel do 2º Esquadrão de Policia Rural Montada (2º Esqd P R Mont), situado na Av. Pedreiras, nº 1020, ocorria de carroça. Carroça esta, que era puxada pelo seu famoso cavalo branco, um belíssimo corcel de nome "zero hora". 
                          Contam na cidade que um certo oficial oriundo da capital do Estado, e pouco entendido sobre os costumes do povo da fronteira, certa feita indagou ao velho brigadiano por qual motivo tinha colocado o nome do seu cavalo de zero hora?  O policial passou então a narrar-lhe a seguinte explicação: " ´Comandante, certa feita, por várias vezes quando eu acordava em minha casa, não encontrei mais nem com promessa o meu exemplar do jornal zero hora que eu assinava diariamente.  
                          Intrigado com o fato, passei a cuidar mais atentamente tentando descobrir o que estaria acontecendo e quem sabe dar um flagrante no referido ladrão.
                          Para minha surpresa, uma certa manhã ainda muito cedo, quando ouvi o barulho do jornaleiro em frente da minha casa 
eu saltei ligeiro da cama imaginando que hoje daria um flagra no meliante que já estava viciado em roubar o meu jornal.
                          E qual não foi a minha surpresa quando dei de cara com o meu cavalo comendo vorazmente o jornal.  
                          Na verdade o policial descobriu que o seu cavalo comia o jornal todos os dias, por isso, estava bem gordinho de tanto comer jornal. 
                         Em razão disso, batizou o cavalo com o nome de zero hora.    
                          E Vocês não vão me dizer que acreditam nesse sem vergonha mentiroso ?  kkkkkkkkkk !!!
                          

domingo, 5 de junho de 2016

O BENZEDOR DE QUARAI-RS

Quando cheguei na cidade de Quarai, o dia 17 de novembro de 2005, a cidade sofria uma estiagem (sêca), já havia quase seis meses.
Apesar de meu Pai haver nascido em quarai, e eu estar ativo no serviço público a mais de 25 anos, tinha ido aquela cidade não mais do que umas quatro vezes.
Fui muito bem acolhido por aquela população e logo já me senti bem a vontade convivendo com aquela gente maravilhosa.
De pronto pus-me a  trabalhar com afinco nas tarefas as quais eu tinha sido incumbido de solucionar.
Assim, os dias iam passando e aconteceu que em meio a uma ensolarada e quente tarde de uma sexta-feira do mes de janeiro, a soldado feminina Sandra, entrou em meu gabinete as pressas e quase gritando, anunciou-me que recebera uma ligação telefônica da cidade Artigas-ROU, alertando sobre a chegada em aproximadamente um hora, de um perigoso temporal o qual já havia causado estragos enormes na cidade de Salto na ROU.
Não demorou muito e já se podia enxergar uma barra preta surgindo para os lados da banda oriental.
Na condição de Comandante da BM Local, compreendi de imediato que precisaria alertar as demais lideranças da cidade. Logo a competente Sd SANDRA, ligou para todos os órgãos da cidade inclusive a Defesa Civil Quaraiense, sendo que após os contatos e o alerta geral aos cidadãos da cidade, permanecei no quartel.
Não demorou muito para que as primeiras rajadas de vento se fizessem sentir. Foi então que o meu auxiliar de serviço do dia, o Sargento "MITA", chegou ao Quartel pois eu o havia chamado para que ficasse ali comigo, pois, caso fosse preciso uma intervenção imediata já estaríamos de prontidão.
E a certa altura dos acontecimentos, o céu escureceu de vez, e o vendaval caiu sobre a cidade castigando-á.
O Sargento MITA, se dirigiu aos presentes falando com vós retumbante disse: - "Comandante, colegas, não se preocupem, porque nada vai acontecer de ruim aqui com a gente. e apanhando uma cadeira, sentou-se posicionado bem em frente a porta de entrada do aquartelamento. Fechou os olhos e até parecia que iniciava uma reza e ou uma prece.
Não é preciso descrever aqui o perigo dos raios e trovões que castigaram sem piedade a cidade, que ainda recebia as chicoteadas do forte vento que soprava acima dos 70 km por hora.
Ao final de quase meia hora a chuva e ventania, começou a cair o granizo que acabou por arrasar de uma vez por todas com o que ainda restava intacto.
E assim como iniciou o temporal  acabou, e aí permaneceu somente a chuva torrencial por longas horas a mais.
E por ser já inicio de noite escura, e o Sargento MITA não se levantar da cadeira, um soldado que prefiro não revelar seu nome, resolveu chamá-lo, momento em que descobrimos com enorme surpresa que o Sargento Benzedor "havia dormido o tempo todo que durou o temporal sem ver nada do que tinha acontecido em sua cidade."
Portanto, não tinha benzido coisa nenhuma !