Com certeza a mais carismática entidade que povoa os terreiros de
Umbanda. A mística do Preto-Velho é fruto de condições e circunstâncias
únicas em terras brasileiras.
São entidades desencarnadas que tiveram pela sua idade avançada, o
poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar
da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da
vida, consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria,
trazendo esperança e quietude aos anseios da consulência que os
procuram para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omulu, são
mandingueiros poderosos, com seu olhar prescutador sentado em seu
banquinho, fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda,
rezando com seu terço e aspergindo sua água fluidificada, demandam
contra o baixo astral e suas baforadas são para limpeza e harmonização
das vibrações de seus médiuns e de consulentes.
Carinhosamente, também chamados de Pai Preto, estes guias ensinam uma
importante lição de humildade e resignação diante das adversidades da
vida, sem perder a alegria e o bom humor. É comum ouvir, dos mesmos,
observações jocosas a respeito dos problemas. Simplificando o que
parecia complicado, dando esperanças para fortalecer psicologicamente
seu consulente, porque sabem que se fraquejarmos na lida da vida, os
problemas se tornam maiores e não suportamos o fardo.
A falange dos Pretos - Velhos guarda sinais particulares e individuais
da origem dos elementos que a compõem. Antigos escravos, estes ainda
conservam certas designações que denunciam de qual nação ou tribo
africana eram oriundos. Assim encontramos Pai Tião D’Angola, Vovó Maria
Conga, Vovô Cambinda, Pai Joaquim de Aruanda, Pai Zeca da Candonga,
todos com uma característica comum: a bondade e a doçura com que tratam
os fiéis que os consultam, procurando um alívio para suas aflições.
Pai Antônio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de
Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu
a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta "linha"para
nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos
Orixás.
O "Preto-Velho" está ligado à cultura religiosa Afro Brasileira em
geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião
Umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de sua
liturgia, representa uma"linha de trabalho", uma "falange de
espíritos", todo um grupo de mentores espirituais que se apresentam
como negros anciões, ex-escravos, conhecedores dos Orixás Africanos.
São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e
coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja,
são simplesmente pretos e pretas velhas como Pai João e Vó Maria, por
exemplo.
Milhares de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho
despersonalizado do elemento individual valorizando o elemento
coletivo identificado pelo termo genérico "Preto-Velho". Muitos até
dizem "nem tão preto e nem tão velho" ainda assim "preto velho fulano
de tal". A falta de informação é a mãe do preconceito, e, no caso do
"Preto-Velho", muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou
de origem africana desconhecem valor do "Preto-Velho" dentro das mesmas.
Preto é Cor e Negro é Raça, logo o termo "Preto-Velho" torna-se
característico e com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora
de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria "Negro Velho",
"Negro Ancião" ou ainda "Negro de idade avançada"para identificar o
homem da raça negra que se encontra já na "terceira idade" (a melhor
idade). Por conta disso alguns se sentem desconfortáveis em utilizar um
termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um
amável senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso
fácil, por trás do olhar de homem sofrido, que na humildade da
subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a
alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos
Orixás, vindo ao encontro da imagem e resignação de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Alguns preferem chamá-los apenas de "Pais Velhos" o que é bonito ao
ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é
motivo de orgulho. São eles que souberam passar por uma vida de
escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em
se auto-afirmar "nêgo véio" e ex-escravo; talvez assim se mantenham
para que nunca nos esqueçamos que em qualquer situação temos ainda
oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a oportunidade de
dar o testemunho de nossa fé.
O "Preto-Velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da
filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos
se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição,
assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres
no astral.
No imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns
formadores de opinião, a imagem do "Preto-Velho" pode estar associada
por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam "com
estas coisas", pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal
tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito
para a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo. Não
existe uma Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim única e
exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é
Umbanda e assim é com os "Preto-Velhos",todos fazem o bem sem olhar a
quem, caso contrário não é de fato um "Preto-Velho", pode ser alguém
disfarçado de "velho-negro", o "preto velho"trabalha única e
exclusivamente para a caridade espiritual.
São espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em
essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma
experiência diferente. Os Pretos - Velhos trazem consigo o "mistério
ancião", pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser
espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda
evolutiva.
Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e
"Preto-Velho" fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia,
todos se aquietam para ouvi-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a
palavra "Atotô", saudação a Obaluayê que quer dizer exatamente isso:
"silêncio".
Nas culturas antigas o "velho" era sempre respeitado e
ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este
costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas
mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma
herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa
história pode ir buscar, tão antigos também são alguns dos pretos
velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do
karma, já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com
paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho
evolutivo.
Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da
libertação dos escravos eu os saúdo: "Salve os Pretos Velhos! Salve as
Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô
meu Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nanã!"
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo.
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