sexta-feira, 25 de março de 2016

Trago comigo o orgulho e a predestinação de minha terra e sinto, com o máximo orgulho,
que, ao contar-vos coisas de mim mesmo, vos revelo apenas que a imagem desses recantos
tem sido a estrela tutelar de minha cruzada.”


(Oswaldo Aranha)

OSWALDO ARANHA, DE ALEGRETE PARA O MUNDO...
1894
A 15 de fevereiro, nasce em Alegrete-RS OSWALDO EUCLIDES DE SOUZA ARANHA - o “Cidadão do Mundo”.
Era filho do coronel Euclides Egydio de Souza Aranha e Luiza de Freitas Valle Aranha, proprietários da estância Alto Uruguai no município gaúcho de Itaqui, onde ele passou a infância. Foi alfabetizado por sua mãe.
Segundo entre os 11 filhos do casal, descendia diretamente, pelo lado paterno, de Maria Luzia de Sousa Aranha, baronesa de Campinas (da região paulista que hoje corresponde à cidade do mesmo nome), cujo marido foi um dos responsáveis pelo início do plantio de café na província de São Paulo.

Seus avós paternos eram Martins Egydio de Souza Aranha e Sabina Amaral Nogueira Aranha, ambos naturais de São Paulo.
Seus avós maternos eram Manoel de Freitas Valle, natural de São Paulo, e Luiza Jacques de Freitas Valle, natural de Alegrete-RS.
Seu pai exercia a chefia do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) em Itaqui.
Na família de sua mãe, dedicada tradicionalmente à política em Alegrete, destacou-se LUIS de FREITAS VALLE, Barão de lbirocaí, o fundador do jornal Gazeta de Alegrete, o mais antigo jornal do Rio Grande do Sul. Também JOSÉ DE FREITAS VALLE, que foi Senador da República, por São Paulo e teve uma casa de cultura em São Paulo, chamada Ville Kyrial, freqüentada pela mocidade intelectual da época, como Manoel Bandeira, Tarcila do Amaral, etc.
Oswaldo Aranha
Criado na fazenda do pai em Itaqui, aos 13 anos ingressou no Colégio Militar no Rio de Janeiro.
Na antiga capital federal, formou-se em Direito, em 1916. Durante seis meses, estudou Direito Internacional na Universidade de Sorbonne, em Paris.

Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial em 1914, regressou ao Brasil e iniciou a carreira política.
Em 1923, tinha uma banca de advocacia em Itaqui quando resolveu pegar em armas para defender o governo do caudilho Borges de Medeiros, presidente do Estado.

Participou ativamente da Revolução de 1923, tendo sido ferido numa perna no combate que se travou sobre a ponte do rio Ibirapuitã, em 19 de junho desse ano (foto abaixo). Ferido, foi transportado numa carreta sob ameaça de gangrena até um hospital.
Após a Revolução, foi nomeado por Borges de Medeiros, para a subchefia da Polícia da Região da Fronteira. 
 

Ponte Borges de Medeiros, sobre o rio Ibirapuitã.
1925
Em fevereiro, foi eleito intendente (prefeito) de Alegrete, governando a cidade de 1925 a 1927.

Apresentou um plano de governo surpreendente pelo alcance demonstrado nas questões da cidade e também um plano de saneamento público que só foi concretizado mais tarde pelos seus sucessores. Na sua administração, a cidade foi precursora no estado em ter energia elétrica e possuir rede de esgotos.
1926
Chefiou a Vanguarda Legalista a convite do presidente Washington Luís.
A ÚLTIMA CARGA DE CAVALARIA (O Combate de Seival)
(Jornal Zero Hora – Almanaque Gaúcho**, edição de 27-11-2006)
É com esse significado, de última carga da cavalaria gaúcha e de última manifestação quase secessionista no Rio Grande do Sul, que o pesquisador Flávio Poitevin descreve o combate de 25 de novembro de 1926. Nesse dia, as tropas rebeldes comandadas pelos irmãos Alcides e Nelson Etchegoyen derrotaram as forças governistas que tinham entre seus líderes o então intendente de AlegreteOswaldo Aranha.
O movimento armado, conhecido como Coluna Relâmpago, irrompera no território gaúcho dias antes, visando impedir a posse de Washington Luís na Presidência da República. Concentrada basicamente numa unidade do Exército em Santa Maria-RS, a rebelião dos irmãos Etchegoyen não conseguiu dominar a cidade, abandonando-a. Contra eles, Oswaldo Aranha formou um corpo provisório e se apresentou ao comando da 3ª Região Militar, que o designou para chefiar a vanguarda legalista e fazer o reconhecimento da região onde provavelmente estariam os rebeldes. O encontro entre os dois grupos se deu nos campos do Seival, no município de Caçapava do Sul-RS, a 25 de novembro. No combate, Oswaldo Aranha foi atingido no calcanhar direito por uma bala que esfacelou os ossos de ligação do pé com a perna. Recebeu o primeiro atendimento em Lavras e depois em Bagé. Manifestaram-se sinais de gangrena, por fim debelada, não sem antes os médicos terem cogitado da amputação da perna.
Durante quase três anos, Oswaldo Aranha sofreu as seqüelas do ferimento, o que o obrigou, por fim, ao uso de sapatos especiais. No combate de 25 de novembro, os soldados rebeldes, melhor treinados e equipados, dizimaram a gauchada comandada por Oswaldo Aranha. O número de mortos no campo de batalha teria sido de cerca 150, a maioria entre as tropas governistas.
(**) Fonte: Fundação Getúlio Vargas, com colaboração de Pedro Henrique Caldas, de São Lourenço do Sul-RS.

Oswaldo Aranha (ao centro) retorna à Alegrete em 1925, um ano antes
da Batalha de Seival.
1927
Foi eleito Deputado Estadual.
1928
Foi eleito Deputado Federal e escolhido Secretário do Interior e Justiça do Rio Grande do Sul, na gestão de Getúlio Vargas. A foto abaixo é dessa época da conspiração que antecedeu a revolução de 1930, quando Getúlio Vargas ocupava o cargo de Presidente (governador) do Rio Grande do Sul.
Em 1928, Getúlio Vargas ao centro, como Presidente do Estado do RS,
entre seus secretários Oswaldo Aranha (o de cigarro) e João Fernandes Moreira.
OSWALDO ARANHA e GETÚLIO VARGAS
(Jornal Zero Hora – Almanaque Gaúcho, edição de 25-01-2008)
"Em 25 de janeiro de 1928, com 44 anos, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Estado do Rio Grande do Sul, em substituição a Borges de Medeiros. Fechava-se um ciclo importante da história gaúcha. Mesmo integrando o partido do homem que dominara a política rio-grandense durante três décadas, Getúlio fez questão de, sem romper com Borges, montar um governo autônomo, cercando-se de nomes de suas próprias relações. Para o importante cargo de Secretário da Justiça, indicou Oswaldo Aranha, o impetuoso representante de uma nova geração de políticos. Para a Fazenda, chamou um amigo dos tempos da faculdade, Firmino Paim Filho, e, para as Obras Públicas, indicou João Fernandes Moreira. Para a estratégica função de chefe de Polícia, nomeou seu concunhado Florêncio de Abreu(...)".
1930
Participou da formação da Aliança Liberal, de oposição, e foi ativo articulador da Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. Foi ele quem concretizou a organização do movimento armado para depor o presidente Washington Luis.
"Ele foi a alma da revolução. Um elegante senso cívico o guiava", disse o filho Euclydes, em entrevista à revista ISTO É.

Após o sucesso da Revolução, adquiriu projeção nacional. Foi um dos mais atuantes políticos de sua era, ocupando cargos de grande importância para o destino da nação.
Quando Getúlio Vargas assume a Chefia do governo provisoriamente em 1930, Oswaldo Aranha assume o Ministério da Justiça e Negócios Interiores. A partir de então, as suas participações na política nacional foram de suma importância.
AQUELE 3 de OUTUBRO
(Jornal Zero Hora – Almanaque Gaúcho, edição de 03-10-2006)
Apesar de Borges de Medeiros ter reconhecido a vitória do paulista Júlio Prestes sobre Getúlio Vargas em 10 de março de 1930, a maioria dos integrantes da Aliança Liberal (que promovera a candidatura de Vargas) não se conformou com o resultado. A articulação para enfrentar pelas armas o poder central ganhou intensidade com o entusiasmo de Oswaldo Aranha, João Neves, Flores da Cunha, Maurício Cardoso, Lindolfo Collor e especialmente Batista Luzardo. Foram de Luzardo os primeiros contatos para obter a adesão de Minas Gerais e Paraíba para a revolução. A Oswaldo Aranha coube a organização do levante. Getúlio conspirava, mas por trás dos bastidores.
A revolução eclodiu às 5h da tarde de 3 de outubro de 1930, quando Osvaldo Aranha e Flores da Cunha comandaram o assalto aos quartéis da Rua da Praia, sedes dos mais importantes corpos militares do sul do Brasil. Pouco antes da meia noite, Porto Alegre estava em poder dos rebeldes, com a única exceção do 7° Batalhão de Cavalaria, que ainda resistia sob o comando do coronel Benedito da Silva Acauã. Em homenagem a esse primeiro dia da chamada Revolução de 30, a Constituição de 1946 estabeleceria 3 de outubro como a data das eleições presidenciais brasileiras, o que perdurou até o período militar na década de 60.
1931
É escolhido para Ministro da Fazenda do governo Getúlio Vargas, a quem dedicava uma grande amizade.
Oswaldo Aranha
1933
Tornou-se líder do governo na Constituinte.
1934
Segue para Washington, após aceitar o cargo de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, onde desempenha exemplarmente o seu cargo.
Foi o principal arquiteto das alianças comerciais com os americanos.
Usava as boas relações de Getúlio com os alemães nazistas para barganhar apoio financeiro dos Estados Unidos ao projeto da Companhia Siderúrgica Nacional.
1936
Participa da Conferência Interamericana para Manutenção da Paz em Buenos Aires.
1937
Quando Getúlio dá o golpe do Estado Novo, Oswaldo Aranha demite-se do cargo de Embaixador e volta ao Brasil.
1938
Assume o cargo de Ministro de Relações Exteriores, permanecendo no cargo até 1944.

Sempre preocupado com questões de segurança nacional, promoveu o Pan-americanismo e estreitou o relacionamento com a Argentina.

Organiza a VIII Conferência Pan-Americana em Lima.

No Itamaraty, iniciou profunda reforma, colocando a diplomacia brasileira no caminho da constante análise política da situação internacional e a utilização do comércio e demais atividades econômicas como instrumento da política externa brasileira.

Como Ministro das Relações Exteriores, no Jóquei Clube do Rio de Janeiro.
1939
A “Missão Aranha” é chefiada pelo diplomata e resulta na assinatura de tratados econômicos entre Brasil e EUA.

Como chanceler do Brasil durante a Segunda Guerra, colocou o País do lado dos Aliados, conseguindo, com a vitória destes, importantes vantagens políticas e econômicas que propiciaram o início da nossa industrialização sistemática.
Oswaldo Aranha
1947
Após a queda de Getúlio, seu prestígio não diminuiu. Homem de diálogo eficiente, os improvisos de Aranha eram famosos. O presidente Eurico Gaspar Dutra o nomeou Chefe da Missão Brasileira junto à ONU (Organização das Nações Unidas). 
Foi eleito Secretário Geral da ONU em 1947 e reeleito em 1948. 
Oswaldo Aranha inaugurou, na primeira Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU, em 1947, a tradição que se mantém até hoje de ser um brasileiro o primeiro orador deste grande e importante foro internacional.


Em 16 de setembro de 1947, preside a sessão da ONU em que é aprovada a partilha da Palestina, com a futura criação do Estado de Israel em 1948. Em razão de ter dado pátria ao povo judeu, seu nome é considerado uma legenda em Israel.
Em 2007, foram preparadas inúmeras homenagens a Oswaldo Aranha pela comunidade judaica, pois marcou os 60 anos dessa célebre sessão da ONU, presidida por ele, e que determinou a criação do Estado de Israel. O médico carioca Nelson Menda, da Associação Israelita do Rio de Janeiro, é quem coordenou as homenagens prestadas a Oswaldo Aranha.
1953
No segundo governo de Getúlio, voltaria ao Ministério da Fazenda, em 1953. "Se não houvesse Oswaldo Aranha, não haveria Getúlio Vargas", afirma o filho Euclydes.
1954
Em 24 de agosto, acompanhou Getúlio Vargas na sua última viagem para São Borja. Junto ao túmulo do amigo, pronunciou um discurso imorredouro.
1957
Após o suicídio do presidente Getúlio Vargas, afasta-se da política, porém em 1957 retorna à ONU, chefiando a delegação brasileira à XII Assembléia Geral das Nações Unidas.
1960
Falece no Rio de Janeiro, em 27 de janeiro 1960, aos 66 anos de idade, não deixando herdeiro de sua prodigiosa mentalidade e senso político.

Túmulo de Oswaldo Aranha, no Rio de Janeiro.

É considerado um dos maiores expoentes políticos do país em toda a sua história.
Apesar de ser um cidadão do Mundo, OSWALDO ARANHA sempre sentiu um grande orgulho de sua origem rural e costumava apresentar-se como “Peão do Alegrete”.
Oswaldo Aranha é descrito pelo psicanalista João Gomes Mariante como um homem que manejava o narcisismo com equilíbrio. No livro Os Três Ases de 30 (os outros dois são Getúlio Vargas e Flores da Cunha), Mariante refere-se ao homem que presidiu a Organização das Nações Unidas (ONU) como um "gaúcho universalizado": "Tudo nele tinha uma simplicidade sem igual. Com a mesma naturalidade que trajava bombacha, envergava fraque e cartola."

Em novembro/2007 foram feitas inúmeras homenagens a OSWALDO ARANHA em Israel, por ocasião dos festejos dos 60 anos da criação do Estado de Israel. No dia 27-11, membros da família de Oswaldo Aranha visitaram o Kibutz Bror Hayil, onde estão expostos os documentos históricos e o martelo usado por Oswaldo Aranha na Assembléia Geral da ONU que aprovou a Partilha da Palestina, em 29 de Novembro de 1947.

Instituto de Educação Oswaldo Aranha
Principal colégio estadual da cidade de Alegrete-RS.
Nota da Webmaster:
O acervo da biblioteca particular de OSWALDO ARANHA com cerca de 11,5 mil obras está em uma sala reservada do Instituto de Educação Oswaldo Aranha e começou recentemente a ser catalogado por estudantes e professores do curso de História da Universidade Regional da Campanha (URCAMP)- campus de Alegrete. Segundo o pesquisador Luiz Felipe Schervenski Pereira, os livros mostram o interesse de OSWALDO ARANHA pelas obras de ciência política, sociologia e filosofia. Podem ser encontradas obras como Filosofia Positiva, de Auguste Comte, em francês, edição de 1907, e o acervo completo do jornal gaúcho A Federação. O historiador acredita que será possível descobrir um pouco mais sobre as idéias de OSWALDO ARANHA a partir de suas leituras e observações feitas nas páginas de livros e jornais da época. Os livros empoeirados dispostos em robustas estantes de madeira guardam parte dos fundamentos teóricos da política externa brasileira entre as décadas de 30 a 50.
Fonte: Jornal Zero Hora, edição de 08-09-2006 (Francisco Amorim).

SUAS FRASES...
Postal do Museu Oswaldo Aranha
“Viver é a melhor e mais bela forma de morrer.”
“Os homens desse país têm o traço de suas geografias”.
“ A vida diplomática ou é uma devoção, ou uma vulgaridade.”
“ O desarmamento espiritual é a base do futuro das nações”.
“O medo da verdade é o mais covarde dos medos”.
“Não é pela violência que se fazem as conquistas”.
“O berço que marcou minha vida foi aquecido no fogão das revoluções”.
“Quem quiser escrever a história do Brasil tem que molhar a pena no sangue do Rio Grande”.
“Queremos que os governos tenham o programa do povo, e não que o povo tenha o programa dos governos..."
“Os homens, como os povos, são o que foram suas ações e o que são suas idéias". 


MEMORIAL OSWALDO ARANHA
Em 20 de agosto/2007, foi lançado em Alegrete o projeto do futuro Memorial Oswaldo Aranha, com 872,65m², cuja planta é da autoria do consagrado arquiteto Oscar Niemeyer - amigo pessoal da família Aranha -, a ser construído numa colina às margens da rodovia Oswaldo Aranha (BR-290), no perímetro urbano de Alegrete/RS, em terreno já cedido pela União, próximo à Vila Militar.
O parecer favorável para a concessão dessa área que pertencia à Guarnição Militar de Alegrete já foi dado em 1986, pelo então comandante da 12ª Cia., capitão Sérgio Barreto de Matos, segundo informou o ex-prefeito de Alegrete, Adão Faraco - o mentor do p rojeto original do Memorial para homenagear o alegretense mais famoso. Desde 1986, Faraco tem difundido essa idéia, já tendo apresentado o projeto diversas vezes às mais diversas autoridades e instituições. Foi nessa mesma época, durante o mandato de Faraco, que foi criado o Museu Oswaldo Aranha, na casa onde nasceu Oswaldo Aranha.
"Uma homenagem como esta, de Alegrete ao seu filho mais ilustre deve realmente empolgar a todos", argumenta Adão Faraco, lembrando que Oswaldo Aranha chegou aos mais altos cargos da República sem se desligar jamais das suas origens. "Orgulhava-se de ser o Peão do Alegrete", elogia o ex-prefeito.
O projeto tramitou em Brasília sob a supervisão e acompanhamento da família do diplomata. Através de uma filha de Oswaldo Aranha (Dedei Aranha Corrêa de Lago) e de uma neta (Zênia "Zazi" Aranha), a maquete do referido projeto foi tombada e passou a ser acervo do Museu Oswaldo Aranha de Alegrete.


Maquete do projeto arquitetônico do Memorial Oswaldo Aranha, de Oscar Niemeyer, hoje
pertencente ao acervo do Museu Oswaldo Aranha (Alegrete), após tombamento.
Tem a forma de pássaro e representa os cinco continentes.
Localizado em uma colina junto à BR-290, o Memorial Oswaldo Aranha será também a demonstração de que o pampa gaúcho não é apenas o resultado de um passado de lutas. "E não há local mais bonito", vibra Adão Faraco, lembrando que o Memorial ficará às margens da principal via de acesso dos turistas dos chamados Países do Prata.
Um Centro Cultural virá suprir uma carência histórica da região da fronteira-oeste gaúcha, distante dos grandes centros, mas berço de homens do porte de Oswaldo Aranha. A área prevista será de 800 metros quadrados, com salas para biblioteca, anfiteatro e espaço votivo. Haverá ainda o bosque das Nações Unidas, cenário natural de 8 hectares com árvores simbolizando os países que constituíam a ONU na época. O prefeito do Rio de Janeiro, Cézar Maia, tentou levar a construção do Memorial para lá, mas não contou com o apoio da família Aranha, que fechou questão quanto à construção da obra ser em Alegrete.
Para alavancar recursos para a construção desse importante espaço cultural, foi criada uma Comissão Pró-Memorial Oswaldo Aranha, composta por pessoas de diferentes segmentos da sociedade, com influência ao nível estadual e federal. As ações estratégicas da comissão são planejadas por Antonino Souza Dornelles, médico e produtor rural alegretense e Andréa Motta de Oliveira, diretora do Museu Oswaldo Aranha. 


MUSEU OSWALDO ARANHA
Casa onde nasceu e morou Oswaldo Aranha, hoje Museu Oswaldo Aranha (foto: Roberto da Motta Peres).
É a casa pertencente à Família Freitas Valle (avós maternos de Oswaldo Aranha), onde ele nasceu a 15 de fevereiro de 1894. É uma construção do século XIX, composta por 8 salas na primeira parte da casa, com pátio calçado (foto abaixo), possuindo duas alas de construção, a da esquerda com quatro salas grandes e um banheiro, e a da direita, com 6 salas menores. Há um poço artesiano já fechado, bem no fundo do terreno.
O Decreto Executivo n° 24/84, de 25 de maio de 1984, do Prefeito Dr. Adão Dornelles Faraco, deu início às obras de restauração da Casa Oswaldo Aranha. Após a restauração, a residência foi transformada em Museu Oswaldo Aranha, sendo inaugurado no dia 24 de outubro de 1984.
Fundos do Museu Oswaldo Aranha, onde se vê um pátio calçado
O Museu é constituído por dois acervos. Os móveis e objetos pertencentes ao Dr. Oswaldo Aranha e o acervo foto-biográfico (com reportagens de jornais), elaborado pela Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro, em exposições permanentes que retratam a sua vida política, a sua carreira no Brasil e no mundo e várias outras obras significativas. Possui um dos acervos foto-biográficos mais importantes do País e foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.
Esta casa de cultura tem por objetivo a preservação do acervo e a divulgação do nome do Patrono e oferece ao público visita guiada por professores especializados.
Museu Oswaldo Aranha abriga inúmeros eventos e exposições e é coordenado pela professora Andréa Motta de Oliveira.
Depois de pertencer à Família Freitas Valle, a casa foi uma Clínica Médica, Hotel Central, Secretaria de Educação do Município e, finalmente, Museu Oswaldo Aranha. Localiza-se no centro da cidade, na Praça Getúlio Vargas, 585 (foto) . O local foi sempre de efervescência política, porque ali se encontravam os Freitas Valle** que dirigiram este município por várias décadas (ver resumo abaixo).
 


(**) FAMÍLIA FREITAS VALLE (Família materna de Oswaldo Aranha):
01 - Luiz Ignácio Jacques (pai de Luiza Fermina Jacques, que casou com Manoel de Freitas Valle). Trabalhou como vereador durante quatro gestões. Foi eleito vereador em fevereiro de 1834 a 1840, reeleito de 1840 a 1845. Foi Presidente da Câmara de Vereadores duas vezes de 1845-1849 e 1860-1864.

02 - Manoel de Freitas Valle (pai), criador, comerciante da Firma Jacques & Freitas e político. Foi vereador no período de 1864-1867 a 1868-1872, em dois períodos legislativos.

03 - Dr. Simplício Ignácio Jacques, Presidente da Câmara, na gestão (1876-1880), comerciante, homem de muita visão. Como presidente da Câmara de Vereadores, fazia o papel de Poder Executivo.

04 - Luiz Jacques de Freitas Valle, Barão do Ibirocay, Presidente da Câmara de Vereadores de 1884 a 1888; foi Presidente do Partido Conservador; foi criador e financiador da campanha abolicionista, através do Clube Emancipador; foi Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro; foi fundador e primeiro Presidente da Federação das Associações Comerciais do Brasil; foi diretor da Companhia Estradas de Ferro São Luiz e Caxias, no Estado do Maranhão. Era filho de Manoel de Freitas Valle.

05 - José Jacques de Freitas Valle, irmão do Barão do Ibirocay, foi Senador da República, por São Paulo; teve uma casa de cultura em São Paulo, chamada Villa Kyrial, freqüentada pela mocidade intelectual da época, como Manoel Bandeira, Tarcila do Amaral, entre outros. Foi poeta, usando o pseudônimo de Jaques Davrey.

06 - Coronel Manoel de Freitas Valle Filho, Intendente em três administrações: (1901-1904); de janeiro a setembro de 1905, quando renunciou para ser Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; e de 1913 a 1916, quando faleceu.

07 - D. Luiza Jacques de Freitas Valle Aranha, mãe do Dr. Oswaldo Aranha, teve um desempenho social de alta valia, sendo precursora, em Alegrete, da assistência social.

08 - Dr. Oswaldo Euclides de (Freitas Valle) Souza Aranha foi advogado, revolucionário, Prefeito de Alegrete, Deputado Estadual, Deputado Federal, Secretário do Interior do Rio Grande do Sul, Governador do Rio Grande do Sul, Ministro da Justiça, Ministro da Fazenda, duas vezes, Ministro da Agricultura, Embaixador nos Estados Unidos, Ministro das Relações Exteriores, Presidente da ONU em duas Sessões.

09 - Dr. Antônio Freitas Valle, Vice-intendente na gestão do Dr. Francisco Carlos de Sá Dornelles 1921-1922; assumiu como Intendente no período de 1922 a 1924; foi Intendente de 1929 a 1930; foi Interventor Estadual de 1930 a 1933, sendo então o primeiro cidadão a usar o título de Prefeito Municipal; foi Chefe de Polícia da região; foi Cônsul do Rio Grande do Sul, na cidade de Salto, no Uruguai, durante 20 anos.


Fontes:

O COMBATE DA PONTE DO IBIRAPUITÃ EM JUNHO DE 1923 Por Jose Oripe



Combate na ponte do Rio Ibirapuitã
No Inverno de junho 1923, ocorreu um dos principais conflitos da Revolução de 23, o combate na ponte do rio Ibirapuitã na cidade de Alegrete. De um lado os Maragatos comandados pelo General Honório Lemes, o Leão do Caverá; a frente do 2º Corpo do Exército Libertador tendo a seu comando entre outros, Batista Luzardo, o ultimo Caudilho e os irmãos Timbauvas, que criaram fama pela sua coragem. De outro lado os Chimangos comandados pelo então Coronel Flores da Cunha, a frente da “Brigada do Oeste”, entre seus subordinados estavam Nepobuceno Saraiva, filho de Aparício Saraiva, o qual havia sido contratado com a sua tropa constituída de Uruguaios pelo governo de Borges de Medeiros para reforçar as tropas chimangas, o alegretense Tenente-coronel Osvaldo Aranha, os santanenses, Coronéis Sinhô Cunha e Pequeno Pedroso, assim como vários outros santanenses, civis e componentes do 2º de Cavalaria da Brigada Militar. Após vários combates, entreveros e chamuscadas, entre as tropas governistas e revoltosas, num inverno muito frio e chuvoso, as tropas de Honório Lemes, chegam a Alegrete, em 18 de junho, onde são recebidos pelo comandante da 2ª Divisão de Cavalaria do Exército Brasileiro, o qual mostra as áreas neutras em caso de conflitos. Os seus oficiais são recebidos com festas, bailes e jantares pela comunidade alegretense declarada de maioria maragata, ficando a sua tropa acampada no Capão do Angico. Durante a noite o General Honório Lemes recebe um chasque informando sobre a aproximação em marcha forçada das tropas do Coronel Flores da Cunha de imediato mandou reunir suas tropas no acampamento. Durante a discussão do emprego da tática a ser empregada, foi proposto a destruição da ponte, o que não foi aceito pelo General Honório Lemes que queria inicialmente apenas atrair as forças governistas para a Serra do Caverá, onde era profundo conhecedor do terreno, devido a sua vasta experiência como tropeiro naquela região, resolveu então colocar na vanguarda uma força simbólica comandada pelos irmãos Timbauvas, na entrada da cidade.
De um outro lado, o Coronel Flores da Cunha, após combater na Picada do Aipo, em campo Osório na cidade de Santana do livramento, onde utilizou pela 1ª vez o emprego de metralhadoras da Brigada Militar, desloca-se com a Brigada do Oeste para a cidade de Quarai e em seguida para Alegrete para a Coxilha do Combate, enviando a sua vanguarda para a cidade a comando de Nepobuceno Saraiva, para ocuparem a mesma, porém acabaram tiroteando próximo ao cemitério com a vanguarda da tropa do General Honório Lemes.Ao chegar na cidade o Coronel Flores da Cunha foi de encontro ao Comandante da 2ª Divisão de Cavalaria do Exército Brasileiro, onde foi orientado a respeito das áreas neutras. Na seqüência foi direto a várzea verde, ficando a 700 metros da ponte. Em 19 de junho inicia o combate, a vanguarda do General Honório Lemes, que estava próximo ao cemitério tentou retardar a vanguarda de Coronel Flores da Cunha, tiroteando com a mesma, durante a fuga atraíram para a ponte a vanguarda chimanga, atravessaram a ponte e juntaram-se ao grosso da tropa maragata. Logo em seguida, Flores mandou uma seção de metralhadoras do 2ª R C da Brigada Militar fazer fogo sobre o inimigo, o qual estende praticamente toda sua força do outro lado da ponte, tornado quase impossível a sua travessia. Restando ao Coronel Flores da Cunha, apenas a realização de cargas de lanças, tenta pela 1a vez, arrancando sua espada e bradando “os que tiverem vergonha na cara que me acompanhem!”, foi em direção ao inimigo, levando consigo alguns valorosos componentes de sua Brigada, porém o máximo que conseguiu foi aproximar-se um pouco mais da ponte. Logo após o Major Guilherme Flores da Cunha, irmão de Flores, junto com o Capitão santanense, Luiz Rubim, e mais alguns realizam uma carga sobre a ponte, sendo que apenas 5, conseguiram passar, logo após foi ferido o capitão Rubim e ferido mortalmente o Major Guilherme, nesta batalha pelo lado governista foram baleados o próprio Coronel Flores da Cunha e o Tenente-Coronel Osvaldo Aranha, do lado dos maragatos Teco Timbauva e o Ten-cel Mauricio Abreu representaram as grandes perdas. Ainda como a ultima tentativa General Honório Lemes tentou uma carga a lança seca.Porém o desgaste de sua tropa o levou o a realizar uma retirada em direção a Serra do Caverá. Nesta batalha foram empregados uma media de 1.500 homens por Exército, mas a logística superior das tropas governista, foi decisiva. Logo após o combate continuou a perseguição dos chimangos do Coronel Flores da Cunha aos desgastados maragatos do General Honório Lemes.

BIOGRAFIA DO GENERAL FLORES DA CUNHA Por: José Oripe

José Antônio Flores da Cunha nasceu em Santana do Livramento em 5 de março de 1880, na região da campanha do Estado do Rio Grande do Sul, fronteira com a República Oriental do Uruguai.Terceiro de uma descendência de treze filhos do casal de estancieiros Miguel Luiz da Cunha – Evarista Flores da Cunha. De todos, José Antônio foi o que adquiriu maior notoriedade. O seu irmão mais velho, Francisco Flores da Cunha, farmacêutico e estancieiro, também se destacou, sendo Intendente Municipal de Quarai e Santana do Livramento, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador da República e chefe do Partido Republicano Rio-Grandense – PRR em sua terra natal. O mais novo dos Flores da Cunha, Guilherme, agrônomo, morreu no combate da Ponte do Ibiraipuitã, em Alegrete, durante a Revolução de 1923, marcando o seu nome na história rio-grandense.[1]

A estância Vista Alegre onde nasceu Flores da Cunha, hoje chamada São Miguel, estava situada no antigo 7º distrito, nos limites divisórios de Santana do Livramento com o município de Quarai. A estância fazia parte da antiga sesmaria da Boa Vista, que fora doada pelo Imperador ao seu bisavô, Coronel José Antônio Martins, em retribuição aos relevantes serviços prestados durante as lutas cisplatinas. Pelo lado paterno, Flores da Cunha descendia de Joaquim Luiz da Cunha, cujo primogênito, Miguel Luiz, desposou a filha do Coronel José Antônio Martins e de Rosa Violante de Vasconcelos, Úrsula Martins da Cunha, que foi dama do Paço Imperial e que herdou parte da sesmaria da Boa Vista. Dessa mesma ascendência provém o Coronel José Antônio Martins (cosseca Martins), chefe político liberal do Império em Santana do Livramento e também Rivadávia Corrêa, Ministro, Deputado, Senador da República, Prefeito do Distrito Federal e autor de notável Lei de Reforma do Ensino.[2]
Pelo lado materno, provinha de Francisco Flores de Oliveira, fazendeiro no Itaquatiá (2º Subdistrito e Município de Santana do Livramento), de descendência açoriana, o que explica seus cabelos loiros e olhos azuis de muitos membros da família Flores da Cunha. Os seus ancestrais eram naturais de Sorocaba, que vieram para o Sul e cujas origens remontavam a Paraguassu, filha de Tibiriçá, fundador de Santos e ligados à ilustre família daquele Estado, os Toledo Piazza.
Os Cunha, segundo Paulo Xavier, penetraram no Continente na metade do século 18 unindo-se a descendentes lagunistas, pioneiros na fixação de estância no litoral norte e na própria área do surgimento da Capital. Os Martins, igualmente vindos do Reino (procedentes de Celourico de Bastos, Guimarães), madrugaram para o encontro em Santana do Livramento, incorporando também linhagens daqueles açorianos que muito cedo deixaram suas “datas” de povoadores modestos para se transformarem em grandes fazendeiros nos campos da Depressão Central, ao longo dos caminhos abertos para a fronteira. Os Flores da Cunha lideravam a corrente quase puramente açoriana de povoadores que estanciaram nos arredores de Porto Alegre, antes de iniciarem sua marcha para os campos do pampa gaúcho. Mas entre seus aliados despontam duas correntes paulistas, nitidamente ligadas às tropeadas: as de Maciel Barbosa e Mendes de Almeida, representante das velhas famílias de sertanistas.
Os Corrêa, finalmente, como observa Paulo Xavier, expressam a corrente paulista de brasileiros de quatrocentos anos com feitos no sertanismo sul-americano. São também dos primeiros que, pelo planalto, desde São Paulo até as barrancas do Uruguai, foram plantando cidades em torno dos fogões que acenderam nos muitos pousos de suas sofridas tropeadas. Radicaram-se no sul (em Canguçu) de onde se deslocaram para o encontro marcado em Santana do Livramento. Soma dessa tradição, José Antônio Flores da Cunha cresceu em pleno pampa e não foi difícil transformar-se nessa figura carismática, a quem era impossível ficar indiferente. Erico Veríssimo disse que Flores da Cunha era um homem admirado pelos inimigos, mas nunca uma figura inexpressiva. [3]
Viveu sua primeira infância na estância (latifúndio de seu pai), montando em cavalo e participando das lides campeiras com os demais peões. Menino travesso, de temperamento difícil, que o levara muitas vezes a receber castigos do pai. Um dia chegou a apedrejar e ferir um irmão de criação, mas escapou impune graças à solidariedade dos irmãos, esconderem o fato do conhecimento do pai. Desde cedo, porém, começou a mostrar inteligência e gosto pela leitura, despertado pela mãe, dona Evarista, que o alfabetizou. Paralelamente foi aprendendo com ela o francês, aprimorado por uma professora uruguaia de Rivera, cidade separada de Santana de Livramento por uma avenida. Menino ainda, depois adolescente, passou a ler todos os livros franceses que a mãe lhe entregava e que o tornaram um grande conhecedor das obras de Alexandre Dumas, Balzac, Emile Zola e tantos outros, de poetas como Rimbaud e Verlaine, cujos poemas ele adorava declamar. [4]

Como aluno, Flores da Cunha destacou-se na atividade política em entidades estudantis do que nas notas conquistadas em exames. Realizou os cursos primário e secundário no Colégio 15 de Novembro, de Santana do Livramento e aos 15 anos foi fazer os então chamados preparatórios em São Paulo, onde morava seu tio Perereca. Regressando ao Sul, ingressou na Escola de Engenharia, de Porto Alegre, mas insatisfeito com o currículo que não o agradava, desistiu, para insatisfação do pai, que o obrigou a voltar para a estância de Santana e lá trabalhar com os demais empregados. No livro Flores da Cunha de Corpo Inteiro (2007) o escritor e jornalista rio-grandense Lauro Schirmer, lembra: “A maneira encontrada por Flores da Cunha para protestar contra esse tratamento paterno foi ir diariamente para lavoura vestindo ceroulas, fraque, cartola e luvas e assim conduzir o arado puxado por uma parelha de bois. O protesto acabou fazendo com que Seu Miguel concordasse com a proposta do filho de voltar a São Paulo, para cursar Direito. Os primeiros quatro anos foram cumpridos na Paulicéia, o último, porém, foi concluído no Rio de Janeiro, em 1903, quando se formou bacharel em Direito”. [5]
Durante sua adolescência transcorreu a Revolução Federalista de 1893, quando as forças maragatas invadiram o Rio Grande do Sul, ocasião que Santana do Livramento, sua terra natal, permaneceu envolvida no conflito. As lides campeiras e as arremetidas bélicas que conheceu ainda jovem e muitas das quais presenciou, como a retomada de Santana do Livramento pela legalidade, a 19 de junho de 1892, plasmaram o seu caráter, influenciando decisivamente na sua formação de legítimo homem da campanha, franco, leal, impulsivo e amável, violento e emotivo.
Falando à revista A Noite, do Rio de Janeiro, em 1953, Flores da Cunha assim se referiu a esse episódio:
Tinha eu nesse tempo doze anos de idade. Estava no colégio e tive de passar para a fronteiriça cidade Uruguaiana de Rivera, desde a antevéspera do ataque à cidade.
Em Rivera me abriguei na casa de um tio, cunhado de meu pai, Guilherme Dias, e pude assistir, no terreno que separa as duas cidades, desde a madrugada, ao combate crudelíssimo que se feriu. Ora eram as forças que vinham do lado do Itaquatiá, comandadas pelo meu tio-avô, Cosseca Martins, avô do General Mendonça Lima, e de quem tenho o nome de José Antônio, ora eram as forças republicanas que atacavam do lado oeste eram as forças republicanas que atacavam do lado oeste da cidade, comandadas pelo Coronel Ataliba José Gomes, Filho do Barão déb Itaquatiá, de cujas forças era vanguardeiro o Capitão João Francisco Pereira de Souza. O choque foi tremendo na linha divisória e o próprio chefe do governo pagou com a vida, lanceado no interior da cidade, Antônio José de Vargas, que tinha seu domicílio junto ao colégio onde eu era interno e, portanto, assiste a seu velório. Menino de doze anos, de origem castilhista e republicano, fui, no nevoeiro daquela madrugada, das primeiras pessoas a atravessarem a linha divisória de Rivera para Santana do Livramento. (REVISTA A NOITE apud CAGGIANO 1997, p.14).


Sua aparição como homem público se deu com a nomeação, em 1903, para titular da Delegacia de Polícia do bairro da Saúde, na capital da República, conhecido como foco de delinqüentes. O jovem advogado, logo nos primeiros tempos, garantiu para a população da zona a tão desejada – e nunca conseguida – ordem pública, o que lhe trouxera uma posição destacada. Após cerca de um ano, em virtude de um acidente com um estudante, renunciou ao cargo e radicou-se em Santana do Livramento. Segundo o mesmo autor: “Advogado bem-sucedido, Flores da Cunha começou atuando em Santana do livramento, Uruguaiana, Alegrete, São Borja e outras cidades da Fronteira Oeste do Rio Grande. Em Uruguaiana e Alegrete trabalhou com Osvaldo Aranha, seu companheiro inseparável desde a mocidade. Em São Borja chegou a dividir escritório com Getúlio Vargas. Como advogado ganhou muito dinheiro – praticamente todos os bens por ele adquiridos foram com os ganhos na advocacia – cobrando muito de quem podia e atendendo de graça clientes despossuídos”.
No tribunal do júri, só atuava na defesa, fossem quais fossem os crimes dos réus. Uma das poucas vezes em que se negou a defender um criminoso foi no caso do irmão de Getúlio Vargas, Viriato Vargas, que mandou matar friamente um conhecido farmacêutico em São Borja. Para desgosto de Getúlio, cujo irmão tinha se refugiado na Argentina, Flores da Cunha não aceitou o apelo para defender Viriato Vargas. (Provavelmente começou aí o rompimento que foi crescendo em Getúlio, com o passar dos anos, contra Flores da Cunha.) Filho de tradicional família republicana, Flores da Cunha adquiriu gosto pela política desde cedo, na casa dos pais, que eram chimangos exaltados. Não bastasse, os Flores seguiram tendo relações com o chefe maragato Joaquim Francisco de Assis Brasil, que era casado com uma irmã de Julio de Castilhos, mas deixara o Partido Republicano. Querendo, continuar o relacionamento amigável com Flores da Cunha, foi visitar Miguel e Evarista Flores da Cunha na Estância São Miguel, para manifestar-lhes esse propósito. Pois, dona Evarista não teve dúvidas nem meias palavras, foi logo dizendo a Assis Brasil que este não mais lhe merecia consideração, depois de ter abandonado o partido de seu ex-cunhado Julio de Castilhos. Depois de muitos anos é que Assis Brasil e os Flores da Cunha voltaram a conviver, juntos na Frente Única de 1930.[6]
Em 1909, Flores da Cunha foi eleito Deputado Estadual pelo 4º Distrito Eleitoral, para a legislatura de 1902-1912. Em fins de 1910, quando cumpria o seu primeiro mandato parlamentar, afastou-se da Assembléia Legislativa para exercer o cargo de Delegado Auxiliar no Rio de Janeiro, a convite de seu primo, Dr. Rivadávia da Cunha Corrêa, também santanense, e então Ministro da Justiça no governo de Hermes da Fonseca. Para as eleições que se realizaram em 1912, Pinheiro Machado, que dele se tornara amigo, desejava vê-lo na chapa dos candidatos à Câmara Federal pelo Rio Grande do Sul. Mas existindo grandes divergências entre as famílias Flores da Cunha e Pereira de Souza, optou por incluí-lo entre os candidatos pelo estado do Ceará. Em 1910 as duas famílias envolveram-se no chamado “conflito do Clube Pinheiro Machado”, em Santana do Livramento, no qual foram mortos Pedro Nepomuceno Pereira e Bernardino Pereira, irmão do coronel João Francisco Pereira de Souza. Um incidente que teve início a partir de uma conferência da escritora espanhola Belen de Sárraga, dividiu católicos e livre-pensadores, ocasionando a tragédia, da qual os Flores da Cunha chegaram a ser responsabilizados.
Flores da Cunha, inicialmente, recusou essa solução encontrada por Pinheiro Machado para não criar áreas de atrito no Partido Republicano Rio-Grandense, onde as duas famílias ocupavam papel destacado. Mas, por disciplina política, acabou cedendo e concorrendo por um Estado que nem conhecia (Ceará). Concluído seu primeiro mandato parlamentar na Câmara, retornou ao Rio Grande do Sul, ocasião em que foi convidado pelo Presidente Borges de Medeiros para o cargo de Intendente Provisório de Uruguaiana. Existia, nessa época, naquele município, uma profunda cisão nas fileiras republicanas. O PRR estava dividido entre as facções lideradas pelo dr. Sérgio Ulrich de Oliveira e Antônio Monteiro, respectivamente. Flores da Cunha revelou-se, nesse momento, um grande e hábil mediador, conseguindo resolver, satisfatoriamente, aquele impasse político. Além disso, fez uma excelente administração. Durante sua gestão à frente dos destinos de Uruguaiana foi eleito, em 1917, Deputado Federal, assumindo assim o primeiro mandato como representante de seu Estado natal.[7]
Em 1919, um expressivo grupo de amigos e correligionários promoveram sua candidatura à Intendência Municipal de Uruguaiana, convite ao qual não poderia recusar-se. Assim sendo, em 1920, renunciou à sua cadeira na Câmara Federal e foi enfrentar uma eleição em nível municipal, indo contra a vontade de Borges de Medeiros, Presidente do Estado e chefe do Partido Republicano. Venceu o pleito com uma votação esmagadora e assumiu a intendência de Uruguaiana a 27 de outubro do mesmo ano, para o quadriênio de 1920-1924.
Anos depois, Flores da Cunha disse:

Na ocasião tive de trocar minha cadeira de Deputado – o que quer dizer três ou quatro anos de mandato – por uma Prefeitura falida, onde fui encontrar os policiais com calçado amarelo num pé e sapato preto no outro, uma Prefeitura para a qual não se fiava um carretel de linha. (Depoimento para a Revista do Congresso, de 05.10.1948).

Desprendido dos bens matérias na vida privada, revelou-se, na administração pública, preocupação pelo equilíbrio dos orçamentos, pela exata aplicação das rendas públicas, pela contenção das despesas em obras supérfluas e adiáveis. Nisso seguiu a risca o exemplo da política orçamentária de Borges de Medeiros. A sua segunda gestão à frente dos destinos de Uruguaiana, apesar de prejudicada pela Revolução de 1923, foi marcada por uma série de realizações que lhe valeram o reconhecimento até dos próprios adversários, traduzido pelo título de “Cidadão Honorário” de Uruguaiana, outorgado pela comunidade. Em 1922, quando todos pensavam que haveria uma modificação no quadro político do Rio Grande do Sul, com o aparecimento de um novo candidato ao Partido Republicano, para enfrentar o oposicionista dr. Joaquim Francisco de Assis Brasil, Borges de Medeiros, que vinha de sucessivas reeleições, apresentou-se novamente. Fato que desgostou até seus próprios correligionários. O resultado das urnas deixou claras dúvidas, mas, mesmo assim, o candidato situacionista foi proclamado vencedor.
De acordo ao que foi relatado pelo autor estadunidense Carlos Cortez:

“Hoje, muitos ex-republicanos ‘admitem’ que, na verdade, Borges havia, de fato perdido a eleição. Segundo versão popular, a comissão de Vargas teria ido dar ciência ao governador da desastrada derrota, mas antes que pudessem falar, Borges teria iniciado um agradecimento efusivo por terem ido pessoalmente parabenizá-lo por sua vitória.”[8]

Alegando que a eleição fora fraudulenta, a oposição decidiu tentar corrigir os resultados pela força. No dia da posse de Borges de Medeiros, em Janeiro 1923, uma rebelião eclodiu em todo o estado. Federalistas vingativos, democratas idealistas e libertários civis uniram-se com uma meta em comum: pôr fim ao longo reinado de Borges de Medeiros e destruir a constituição de Julio de Castilhos.[9]No entanto, alastrou-se o movimento rebelde que, em março de 1923, todo o Estado se encontrava convulsionado. Com a polícia municipal de Uruguaiana entre outros elementos, o Intendente Municipal Flores da Cunha criou a unidade de combate, à qual deu o nome sonoro de Fronteiriço da República. Com essa força repeliu o ataque levado àquela cidade pelos numerosos contingentes comandados pelo caudilho Honório Lemes.
Nessa oportunidade, Flores da Cunha ajudado pelos civis republicanos Álvaro da Costa e Silva, Flodoardo M. da Silva, Osvaldo Aranha e Laurindo Ramos. “No início da revolução, comandou a vanguarda da Brigada do Oeste, do Coronel Claudino Nunes Pereira, constituída dos Fronteiros da República, do 5º Corpo Provisório de Osvaldo Aranha e de um contingente do Coronel Nepomuceno Saraiva, filho do grande caudilho oriental Aparício Saraiva que faleceu em Santana do Livramento depois da batalha de Massoller, em 1904”. Com o afastamento do Coronel Claudino, após o combate de Santa Maria Chico (Dom Pedrito), travado a 15 de maio, Flores da Cunha assumiu o comando da Brigada do Oeste.
Pouco meses depois do “Pacto de Pedras Altas”, em virtude da Revolução de 1924, em São Paulo, o Estado voltou a ser palco do levante do 5º Regimento da Cavalaria, sediado em Uruguaiana. Já então, a serviço do governo federal e fazendo a vanguarda do destacamento do General Firmino de Paula, integrado pelo Exército, Brigada Militar e Forças Auxiliares, Flores da Cunha surpreendeu Honório Lemes, em Guaçu-boi, ocorrendo sua derrota. Esse feito contribuiu para que lhe fosse conferida, pelo Presidente da República, Artur Bernardes (1922-1926), a patente de General-de-Brigada do Exército Brasileiro. Em 29 de setembro de 1925, Honório Lemes, que se encontrava emigrado na República Oriental do Uruguai, invadiu novamente o Rio Grande do Sul, pela fronteira de Santana do Livramento. Em 8 de outubro, após cercar o chefe revolucionário entre o rio Ibicuí da Conceição, que estava cheio em virtude das fortes chuvas, e o Banhado das Marrecas, Flores da Cunha prendeu- o.
Não houve combate. Sem alternativa, o caudilho levantou uma bandeira branca. Após receber a promessa de que teria garantida sua vida e a de seus homens, entregou-se. Flores da Cunha contou mais tarde: “A prisão dele foi um momento brutal, estava esperando faca e eu abracei-o. Ele arrancou do resolver e me entregou. Eu disse: Guarde o seu resolver”. Conta-se a propósito que, no ato da prisão de Honório, este perguntou a Flores da Cunha: “Como prefere que eu o trate, de doutor ou general?” Flores da Cunha respondeu, para não humilhá-lo ainda mais: “Sou bacharel em Direito. Podes me tratar apenas de doutor.” O prisioneiro então retrucou: “É mesmo, porque general até um índio rude como eu pode ser”. Magnânimo e generoso com o adversário vencido, nunca permitiu represálias, nem mesmo, quando perdeu o irmão no combate da ponte do rio Ibiraipuitã. Aliás, ele sempre reivindicou para si a glória de ter banido as degolas de nossas lutas fratricidas.[10]
Em 28 de novembro de 1930, imediatamente após a revolução, Getúlio Vargas designou José Antônio Flores da Cunha como interventor do Rio Grande do Sul, preterindo a João Neves da Fontoura (1887-1963), vice-presidente no estado. Flores da Cunha governaria o Rio grande do Sul, primeiro como interventor, até abril de 1935 e, a seguir, como governador eleito indiretamente pela Assembléia Constituinte rio-grandense, até 17 de outubro de 1937, quando renunciou e se exilou no Uruguai, em razão de sua fracassada oposição a Getúlio Vargas e ao golpe do Estado Novo, em defesa da autonomia política e econômica rio-grandense. [11] Terminada a Revolução de 30, o quadro econômico e financeiro do estado era desesperador. A dívida externa do Rio Grande do Sul, ao findar 1930, era de US$ 33 milhões, mas o RS conseguiria, com Flores da Cunha, tornar-se o único Estado que, por seus próprios meios, resgatou os bônus emitidos na revolução. Neste sentido, a autora Maria Helena de Castro afirma: “na articulação revolucionária de 1930 o Estado, além de ter servido de base territorial de onde partiram os revolucionários, forneceu os recursos políticos, financeiros e militares que viabilizaram a conspiração armada”.(apud CASTRO,1980, pp.43-44).
Dez dias depois da posse, Flores da Cunha recebeu relatório sobre a grave situação do Banco Pelotense: estava às portas da falência, sem receber ajuda do Banco do Brasil. A encampação do Pelotense pelo hoje Banrisul foi a única saída para estancar a crise que começava a ameaçar também outros bancos, como o da província e o Nacional do Comércio. E com o lançamento bem-sucedido de bônus do tesouro se iniciava a recuperação das finanças do Estado. Em agosto de 1931, Flores da Cunha criou a bolsa de fundos Públicos (Bolsa de Valores) e em outubro começou a operar a loteria Estadual, nova fonte de recursos para o Tesouro. No início de 1936, o governador gaúcho pôde comemorar a aquisição de US$ 13 milhões em títulos da dívida externa, desafogando as finanças estaduais.[12]
Como interventor e, a seguir, como governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha desenvolveu um ambicioso plano de planejamento estrutural da economia rio-grandense, apoiando a ampliação e circulação das relações mercantil-capitalistas e a modernização da produção pastoril charqueadora. Para tal criou, o Instituto Sul-Rio-Grandense de Carnes (1934), um Entreposto Frigorífico (1935), um Matadouro Modelo (1936), um Entreposto de Leite (1935), o Instituto da Banha (1936), o Instituto Sul-Rio-Grandense do Arroz (1937). Promoveu, igualmente, os Institutos do Vinho, Mate, Pinho, etc. Também em 1936 organizou a Secretaria da Agricultura, com a responsabilidade sobre o setor agrícola e pecuário regional.
Em 1935, Flores da Cunha criou a Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio. Seguindo a tradicional obra castilhista-borgista, apoiou o comércio e a indústria e diminuiu os impostos de exportação. Superando a visão econômica de Borges de Medeiros, não teve medo de emitir papel-moeda e endividar o Estado para apoiar iniciativas produtivas de grande fôlego. Negociou seu apoio a Getúlio Vargas quando da crise de 1932, para obter recursos para o Rio Grande do Sul. Em 1930, Flores da Cunha abriu o porto da capital à navegação interoceânica e desenvolveu a rede ferroviária e rodoviária, que ganhou as primeiras coberturas de macadame e cimento. Em 1936, o 4º Congresso Nacional de Estradas de Rodagens caracterizou o sistema rodoviário sulino como um dos mais precários do Brasil, com pouco mais de 400 Km de estradas em funcionamento durante todo o ano. Até então, o Estado Regional investira quase exclusivamente nos meios ferroviários de transportes. Em 1937, Flores da Cunha sancionou lei criando o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), hoje sucateado pelo pseudo governo de Yeda Crusius. [13]
Em 1938, após a renuncia de Flores da Cunha, seria aprovado ambicioso Plano Rodoviário Estadual, com meta inicial de 4.500 km de estradas. De 1938 a 1943, o plano absorveu 22% das receitas tributárias sulinas, conquistando para o Rio Grande do Sul o segundo lugar no sistema rodoviário nacional. No mínimo, de 1932 a 1934, Flores da Cunha concedeu subvenções para Varig. Para mitigar o alto valor mercante rio-grandense, dissolvida por Getúlio Vargas após 1937, que incorporou seus navios ao Lloyd Brasileiro. Flores da Cunha ampliou a rede de escolas públicas, com destaque para as regiões coloniais alemã, italiana e polonesa. Em 1934, criou a Universidade de Porto Alegre, formada pelas faculdades de Medicina e Direito, as Escolas de Engenharia, Agronomia e o Instituto de Belas Artes, tornaria mais tarde na UFRGS.
Em 1935, a Faculdade de Educação e Saúde Pública teve como primeiro titular o historiador Othelo Rosa, ligado ao PRR. Em 8 de agosto de 1931, instituiu o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (Ipergs) e reduziu o tempo de trabalho do funcionário público necessário à aposentadoria de trinta e cinco para trinta anos. Em 1935, criou a Secretaria de Educação e Saúde pública e, no ano seguinte, transformou a Direção Geral de Estatística no Departamento Estadual de Estatística. Em 1935, durante o seu governo, realizou-se a grande exposição comemorativa do primeiro centenário da Guerra Farroupilha. A ruptura de Getúlio Vargas com Flores da Cunha teria ocorrido durante a viagem do presidente ao Rio Grande do Sul para participar dessa celebração.
Flores da Cunha, como se pode constatar atuou em todos os setores da administração, com uma larga visão do futuro, atacando os pontos básicos, como educação, saúde, transporte e agropecuária. Batista Luzardo, João Neves, Lindolfo Collor e Assis Brasil romperam com o governo, abandonando os cargos. Flores da Cunha era simpático ao movimento – não há como negar – embora tradicionalmente tivesse lutado a favor dos governos constituídos e da ordem pública, com a única exceção, para confirmar a regra, da Revolução de 1930. Os revolucionários chegaram a reunir-se com ele no próprio Palácio do Governo, porém Flores da Cunha impusera que deveria ser comunicado em tempo hábil de deixar o cargo, a fim de não trair aquele que o nomeara Interventor.
Emissários enviados a São Paulo cruzaram o território rio-grandense em todos os sentidos e direções. Tenta-se explicar 1932 como um movimento contestatório e contra-revolucionário. Uma tentativa de revanche dos derrotados e desalojados do governo de 1930, contra os vitoriosos. Uma reação dos paulistas por terem sido destronados do poder, após tantos anos em que, na Velha República, se revezaram na presidência com os mineiros. E por último, a escolha de um paulista – Júlio Prestes – para suceder ao paulista de Macaé, Washington Luiz. Os seus antigos companheiros, líderes da Frente Única Riograndense, desejavam que ele comandasse o movimento revolucionário no Estado, em apoio a São Paulo. Mas Flores da Cunha negou-se a fazê-lo e terminou por colocar-se ao lado de Getúlio Vargas.
Explicando essa atitude, Flores da Cunha, anos mais tarde disse: “A rebelião paulista não encontra fundamento histórico, social ou político que justifique meu apoio. Fora das ambições e dos egoísmos, dos desgostos e dos ódios, por muito recalcados e que a deflagraram, nada mais aparece como fonte de inspiração para o doloroso e sangrento desvario. O nome de São Paulo, na defesa de interesses que constituísse um golpe, de força, o governo que bem entendera; e, formado esse, fui também dos primeiros a tudo envidar para que permanecesse integral, vitorioso e acatado pelo poder federal.” A revolução não refletia, assim, interesse do Estado, aspirações do seu povo, imperativo da sua economia. Não passava de hábil e inteligente manobra de politicagem inescrupulosa, exaltando sentimentos respeitáveis das populações e tomadas de surpresa na vertigem de intrigas com que, tumultuariamente, as envolveram.
Em virtude dessa atitude, exigiu ele o julgamento de sua pessoa, o que foi feito por um tribunal de Honra, integrado pelo Arcebispo de Porto Alegre, D. João Becker; pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Manoel André da Rocha; pelo Jurista José Luiz de Almeida Martins Costa e pelo Professor da Faculdade de Medicina, Heitor Annes Dias, que o absolveu. Não pode deixar de considerar que o fato de não apoiar o Movimento Constitucionalista de 1932 foi um erro de perspectiva histórica que chegou a comprometer seu futuro político. Tivesse dele participado, provavelmente, chegaria à presidência da República, pois seria o líder de maior prestígio, com um Estado poderoso como o Rio Grande, unificado, sua retaguarda.
Com o rompimento criado com o seu correligionário dr. Borges de Medeiros e com o seu partido. Flores da Cunha ficou sem uma agremiação política que lhe desse sustentação no governo. Entendeu, portanto, que era necessário reconstruir o quadro político e inclusive pacificar seus inimigos. Para isso criou o Partido Republicano Liberal, de linha progressista. Nele se abrigaram a maioria do Partido Republicano Rio-Grandense, assim como muitos chefes revolucionários de 1923 e federalistas, que não haviam participado da Aliança Libertadora de Assis Brasil, inconformados com a extinção de seu velho e tradicional partido, das lutas de 1893.
O Partido Republicano Liberal retomava velhas propostas republicanas, associadas a alguns pontos programáticos dos libertadores – abolição dos impostos de exportação e de transmissão de propriedade intervivos; redução gradual dos impostos sobre a produção agrícola, pecuária, mineira e maquinofatureira e sua substituição por impostos diretos e progressivos sobre a renda, heranças, legados, doações e terras praticamente não produtivas. Seu projeto era, porém, claramente autonomista e industrialista. Pela primeira vez, o PRL propunha avançada pauta social que refletia a nova realidade do Rio Grande do Sul e do Brasil. Defendia seguros “sociais contra a invalidez, acidentes no trabalho, moléstia, velhice, desocupação ocasional e não procurada e morte” e regime de “oito horas, no máximo, para trabalho maquinofatureiro, comercial, agrícola e mineiro, sua gradual redução à medida da eficiência maior dos processos de produção; restrição dos trabalhos noturnos; limitação dos turnos para mulheres grávidas e para as lactantes [...] proibição de trabalho maquinofatureiro e mineiro aos menores de 14 anos”.[14]
A defesa da forma “republicana federativa” e da autonomia “dos Estados” era proposta que muito logo se chocaria com o movimento centralizador exigido pelos setores industriais hegemônicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, posto em marcha pela Revolução de 1930 sob a direção de Getúlio Vargas. Em maio de 1933, realizaram-se eleições para a Constituinte Nacional. O novo Partido Republicano Liberal, de Flores da Cunha, com mais de 130 mil votos, elegeu treze deputados e a Frente Única, agora na oposição, obteve pouco menos de quarenta mil votos, alcançando votações expressivas apenas na Campanha. A eleição registrava que a quase totalidade do ex-PRR seguira Flores da Cunha e Getúlio Vargas, deixando o velho e superado líder Borges de Medeiros literalmente a “ver navios”. Em 12 de novembro de 1934, o PRL elegeu 21 e a Frente Única, 11 dos 32 deputados da Constituinte sulina, instalada em 12 de abril de 1935. Votaram no pleito mais de 230 mil rio-grandenses.
Registrando a nova complexidade social do Brasil e do Rio Grande, nas eleições para Constituinte rio-grandense, apresentaram-se outras listas além do PRL e da FU, como a Ação Integralista Brasileira, de corte fascista, e a Liga Eleitoral Proletária: Trabalhador, Ocupa o teu Posto, de orientação comunista. Os integralistas obtiveram votos sobretudo em Novo Hamburgo, Cachoeira, Erechim, Caxias e Montenegro, regiões tradicionais da imigração colonial-camponesa alemã e italiana,onde dominava a pequena propriedade rural, e a Liga Eleitoral, em Rio Grande, Santa Maria, Pelotas e Porto Alegre, importantes concentrações operárias.
A partir de 1935, começava o distanciamento entre Flores da Cunha e Getúlio Vargas, em agosto desse ano, Getúlio Vargas veio ao Rio Grande do Sul, por motivos familiares, e esteve em reunião com Flores da Cunha. Nessa oportunidade, fez veladas insinuações contra o Congresso e a Constituição de 1934. Entretanto, no mês seguinte, por ocasião dos festejos do Centenário da Guerra Farroupilha, novamente no sul, Getúlio Vargas foi mais explícito e teria chegado a propor a dispensa do pleito eleitoral que se aproximava. Ante o posicionamento do Governador, Getúlio Vargas logo percebera que dificilmente poderia contar com o apoio do Estado para impor suas idéias de continuísmo. [15]
Em 1936, através de Benjamim Vargas, foi tentando articulado um impeachment no Governador, que não obteve êxito. Diante disso, a campanha contra Flores da Cunha reacendeu, com a criação de grandes e insuperáveis dificuldades para seu governo. Este, que desde o início percebera as intenções do Presidente da República, começara a preparar-se, para a resistência, importando, clandestinamente, armamento da Tchecoslováquia, famosa pela sua indústria bélica. Eram tanques e metralhadora antiaéreas, material que nem o próprio Exército Nacional possuía na época. Começou a organizar os batalhões ferroviários, solidamente armados, distribuídos em diversos pontos do Estado, dirigidos por veteranos dos antigos corpos de “provisórios”, das campanhas de 1923, 1924, 1925, 1926 e 1930.
A quantidade e a qualidade do material bélico que Flores da Cunha possuía, capaz de armar e municiar no mínimo três divisões de infantaria, fez com que o Exército se convencesse ou “fosse convencido” de que a própria segurança nacional estava ameaçada. A partir disso, foi adotada uma nova tática para afastar o Governador Flores da Cunha, que tomara atitude firme contra o golpe. Para levá-la a efeito, Getúlio Vargas usou a pressão e, concentrou grandes contingentes militares na fronteira com Santa Catarina. Depois substituiu o comandante da 3a Região Militar, nomeando para essas funções o General Daltro Filho.Finalmente, sob o pretexto do perigo comunista, requisitou a Brigada Militar do Estado. Com essas medidas que se constituíram em verdadeiro cerco, Flores da Cunha ficou privado de qualquer possibilidade de reação.
Decidiu renunciar ao cargo de Governador, o que fez a 17 de outubro de 1937, viajando para Santana do Livramento, onde atravessou a linha da fronteira com a cidade uruguaia de Rivera. Enquanto no Rio Grande do Sul o interventor general Daltro Filho ordenava a prisão de familiares e seguidores de Flores da Cunha, o governador deposto iniciava um longo período de exílio no Uruguai. José Antônio Flores da Cunha foi destituído dos títulos de General e submetido a um tribunal de Segurança Nacional, que o condenou a um ano de prisão. Além disso, seu governo foi alvo de uma verdadeira devassa. No exílio, de 1937 a 1942, não cessou de conspirar com seus amigos do Rio Grande do Sul e do Brasil, correspondendo-se e articulando-se com eles, através de emissários, que iam e vinham de Montevidéu, via Santana do Livramento. Manteve-se contato direto com lideres militares de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Neste mesmo sentido, o autor rio-grandense Ivo Caggiani afirma que: “Os parentes e amigos o auxiliaram financeiramente e mediante avais, enquanto permaneceu no exílio. Mesmo assim viu-se obrigado a vender alguns bens que possuía e que adquirira com o produto de sua atividade profissional, na sua fase áurea como advogado na fronteira do Estado”. Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, Flores da Cunha dirigiu um manifesto aos amigos e correligionários do Rio Grande do Sul. Nesse manifesto, o general exilado escreveu: “Deflagrada a guerra, não vejo como poderá o Brasil permanecer neutro”. Logo após, o Brasil declarou guerra ao Eixo Berlim-Roma-Tóquio, se aliando aos Estados Unidos, muito graças à ação de Osvaldo Aranha, secundado por Getúlio Vargas, dobrando a resistência dos generais Dutra e Góes Monteiro, favoráveis à Alemanha. No manifesto acima citado, Flores da Cunha já deixava bem claro seu sentimento em retornar ao Brasil o mais breve possível.
Segundo Lauro Shirmer : “Em 1942 ocorreu à volta de Flores da Cunha ao Brasil, disposto a retomar a vida no país, ainda que sabendo que a prisão o esperava. Quando desembarcou no Rio de Janeiro, ao ser reconhecido foi imediatamente detido pelos policiais na alfândega. Não teve tempo nem oportunidade de tentar qualquer contato com Oswaldo Aranha ou outros amigos, sendo levado para o presídio de Dois Rios, na Ilha Grande, no litoral fluminense”.
Na série de processos a que respondeu, após ter renunciado ao governo do Rio Grande do Sul e se exilado no Uruguai, Flores da Cunha acabou sendo condenado a um ano de prisão, acusado de ter comprado armamentos para a Brigada Militar a fim de enfrentar o Exército num possível conflito do Estado contra o governo federal. Exilado em Montevidéu, recusou-se a indicar defensor nesse processo, perante a Justiça, que acabaram se desfazendo, um após outro, por falta de fundamento jurídico ou de dados probatórios. Flores da Cunha reiterou, ao advogado e seu amigo Poty Medeiros, que “confiava na Justiça e aguardaria o seu veredicto, de espírito sereno, sem nada dizer ou alegar”. Poty, no entanto, na execução de precatória expedida pelo Tribunal de Segurança, foi designado para defendê-lo.[16]
Na prisão de Ilha Grande, Flores da Cunha entregou-se a duas tarefas. Relembrando as lides de campo em que também cuidara de lavouras, passou a plantar legumes e hortaliças que, pouco depois, para satisfação dos demais presos, eram servidos nas refeições do presídio. Outro passa tempo seu era escrever suas memórias da Revolução de 1923. O livro A Campanha de 1923 abre com Flores da Cunha dizendo “resolvi narrar, despretensiosamente e fielmente minha intervenção pessoal naquela luta fratricida e lastimosa”. Desde o início da revolução, aos combates que se sucederam, até a pacificação pelo Pacto de Pedras Altas, Flores da Cunha foi o comandante decisivo naquela guerra entre chimangos e maragatos, em mais de 200 páginas deixou um completo depoimento sobre esse episódio marcante da história do Rio Grande do Sul.
Depois de cumprir nove meses de prisão, em maio de 1943, foi indultado pelo Presidente Getúlio Vargas, fato que o desagradou muito, pois faltavam apenas noventa dias para o integral cumprimento da pena. Terminada a 2a Guerra Mundial, com a rendição incondicional das Potências do Eixo, e o retorno da gloriosa Força Expedicionária Brasileira-FAB, não era mais possível manter a situação interna do país, em notória contradição com os países democráticos vitoriosos na conflagração universal. Em virtude dos movimentos de contestação ao regime ditatorial de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945, com a sua queda e a entrega do Governo da União e dos Estados ao Presidente do Supremo Tribunal Federal e aos Presidentes dos Tribunais de Justiça. Voltando ao Brasil à normalidade democrática, realizaram-se as eleições na data marcada, isto é, a 2 de dezembro de 1945, sendo eleito para a suprema magistratura da nação o Marechal Eurico Gaspar Dutra. José Antônio Flores da Cunha, filiado à União Democrática Nacional – UDN – partido que ajudou a fundar, apoiou a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes, um dos últimos sobreviventes dos “Dezoito do Forte de Copacabana”.
Participou destacadamente da campanha eleitoral elegendo-se Deputado da Assembléia Constituinte, para o período de 1946-1950. Reeleito, com expressiva votação em outubro de 1950, continuou a desenvolver atividades parlamentar movimentada. Em 1954, sempre pela legenda da União Democrática Nacional, conquistou a sua terceira reeleição sucessiva. Com o suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, o vice-presidente Café Filho assumiu o Governo. Para substituí-lo em outubro de 1955, foi eleito Presidente da República o mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, e a vice o gaúcho João Goulart. Entretanto, a partir daí, teve início uma campanha contra a posse dos eleitos, da qual o jornalista Carlos Lacerda era um dos líderes. Um mês após as eleições, Café Filho, por motivos de saúde, afastou-se do governo. Como seu substituto legal, assumiu o Deputado Carlos Luz, Presidente da Câmara dos Deputados, que passou a ser presidida pelo Vice-Presidente, o Deputado José Antônio Flores da Cunha.
Em 11 de novembro de 1955, ante a iminência de um golpe, a Câmara votou o impedimento de Carlos Luz, assumindo em seu lugar de acordo com a Constituição, o Presidente do Senado, Nereu Ramos. Dez dias depois a situação tornou a agravar-se. Café Filho pretendeu reassumir a Presidência da República, numa nova manobra que tinha como finalidade impedir a posse de Juscelino Kubitschek. A câmara dos Deputados, conduzida pela mão firme de Flores da Cunha, votou o impedimento de Café Filho. A legalidade e a democracia ganhavam, assim, uma grande batalha. Finalmente, abandonado pelo partido, sem contar com a solidariedade dos parentes e companheiros, que sempre o haviam acompanhado, tanto no governo, como no ostracismo e no exílio, aceitou a candidatura a deputado federal que lhe foi oferecida pelo Partido Trabalhista Brasileiro. Este, porém, não se elegeu, em 1958, ficando na quarta suplência. Pouco depois, com o licenciamento de alguns titulares e suplentes, assumiu sua cadeira para cumprir o último mandato, que não chegou a concluir.[17]
Uma das últimas homenagens que ainda recebeu em vida foi a outorga da comenda de Grande Oficial do Mérito Militar, no QG do III Exército em Porto Alegre. O mesmo quartel que ele tomou comandando o ataque que deu início à Revolução de 1930 tornou-se cenário, em maio de 1959, de uma cerimônia comovente. O general Flores da Cunha faleceu ao fim da tarde do dia 4 de novembro de 1959, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre, vitimado por insuficiência renal. Sua irmã Sinhá e dona Irene o acompanhavam. Irene não podia vê-lo: vítima de glaucoma, ela estava havia muitos anos cega.
Tão logo foi espraiada a notícia, o governador Leonel Brizola ofereceu o salão nobre do Palácio Piratini para que ali, onde durante sete anos Flores da Cunha construiu um novo projeto para o Rio Grande do Sul, fosse velado seu corpo. Junto com a decretação de luto oficial por três dias, Brizola assinou ato restabelecendo ao Instituto de Educação o nome de Flores da Cunha, tirado pela mesquinhez de Getúlio Vargas ao implantar a ditadura do Estado Novo, em 1937. Com uma guarda de honra de cadetes da Brigada Militar, em uniforme de gala, o corpo coberto por um poncho e seu lenço branco, e as bandeiras do Rio Grande e do Brasil sobre o esquife, começou naquela noite uma impressionante visitação que se estendeu até a manhã do dia 5. O vice-presidente da República, João Goulart, e o governador Brizola passaram a noite junto ao caixão, numa homenagem compartilhada por todos os gaúchos.
Um piquete de cavalarianos acompanhou o cortejo fúnebre até o aeroporto salgado Filho, onde começaram as despedidas com o discurso de Itiberê de Moura em nome do Instituto dos Advogados. Um avião especial da Varig, levando também Rubem Berta, presidente da empresa aérea que Flores da Cunha ajudara a salvar em 1932, transportou o ataúde a Santana do Livramento. Do salão nobre da prefeitura, com os sinos da Matriz da cidade dobrando lenta e demoradamente, o carro fúnebre, acompanhado por milhares de santanenses e uruguaios de Rivera, seguiu até o cemitério municipal, onde teve lugar o sepultamento no jazigo da família. Ficou a cargo de Francisco Brochado da Rocha, que no 3 de outubro de 1930 foi ferido acompanhando Flores da Cunha no ataque ao QG do Exército (e depois seria primeiro-ministro no governo parlamentarista de Jango Goulart), falar em nome do governo do Estado e da presidência da República.
Flores da Cunha morreu como queria. Pouco tempo antes, em seu último discurso na Câmara Federal, sentindo que lhe fraquejavam as forças e sua vida estava chegando ao fim, anunciou: “Quero morrer no Rio Grande do Sul, beijando as coxilhas”. A morte de Flores da Cunha não constituiu apenas a sua consagração nos pagos do caudilho. Do Brasil inteiro ecoaram manifestações engrandecendo sua memória. O presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, iniciou pronunciamento dizendo: “Perde o Brasil uma das suas maiores expressões políticas, e o Rio Grande do Sul um de seus filhos mais eminentes. A memória do grande brasileiro, pelos relevantes serviços prestados à nação, seja no parlamento, seja no exercício de cargos executivos, há de permanecer bem viva na consciência de todos”. Entretanto, o seu nome – que Getúlio Vargas tentou apagar da nossa história – havia sido recolocado no Instituto de Educação, por ele construído, e passou a aparecer no Palácio do Tribunal de Contas, por ele criado, uma entre tantas instituições com que ele estabeleceu a estrutura administrativa do Estado.
Seu nome está presente em logradouros de cidades de todo o Rio Grande do Sul, mas há uma falta imperdoável a exigir reparação. Neste mesmo sentindo Lauro Schirmer volta a questionar: “Não é admissível que no Palácio Piratini, repleto de bustos e placas lembrando políticos gaúchos, não haja sequer uma homenagem ao homem que foi, sem sombra de dúvida, o maior governador deste Estado. Um esquecimento injustificável que clama por reparação. Da mesma forma é inconcebível que a capital gaúcha, sede da Universidade criada por Flores da Cunha e herdeira de tantos legados dele, como o Parque Farroupilha, tenha dado seu nome apenas a uma ruazinha de dois quarteirões no distante bairro de Belém Novo”. José Antônio Flores da Cunha não só deve ser nome, na capital gaúcha, de logradouro público à sua altura. Precisa ter seu busto colocado na galeria de honra do Palácio Piratini, entre os grandes construtores do Rio Grande. Até porque, foi o único a implementar um projeto desenvolvimentista e autonomista para o Rio Grande do Sul