CAROLINA LEAL
DE SÃO PAULO
Corintiano, Willian de Souza, 13, tinha o perfil dos meninos da sua
idade: gostava de usar o computador na lan house, de ir à casa do primo
jogar videogame e de ficar conversando com os amigos na rua.
Estava na quinta série de um colégio na Brasilândia (zona norte de São
Paulo), mas já tinha planos para o futuro: assim como o padrasto,
funileiro, queria abrir uma oficina e lidar com carros.
PM morta na Brasilândia, Marta vendia lingerie para elevar renda
Mas, na última semana, foi pego no fogo cruzado do que seria mais uma
chacina na cidade: dois homens armados, de moto, passaram atirando em
direção a um bar. Willian, que voltava para casa naquela hora, estava na
frente do local.
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Apu Gomes/Folhapress |
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Irmã mais nova de Willian segura uma foto do menino; na imagem, ele tinha cinco anos |
Quatro foram baleados -incluindo Willian e um açougueiro que tinha ido comprar cigarros. O açougueiro sobreviveu; os demais não.
"Estávamos acompanhando as mortes pela TV, mas sem imaginar que no outro
dia ia acontecer na nossa família. A gente nunca imagina", conta Katia
Cilene, avó de criação de Willian, ainda sem entender direito o que
tinha acontecido.
Naquele dia, o menino estava na casa da outra avó e disse à mãe que iria
dormir lá. Ficou conversando com o primo no portão e, perto da 1h,
comentou que tinha mudado de ideia e ia para a casa da mãe.
Ninguém sabe se ele só passava em frente ao bar ou se tinha parado ali
para conversar. O certo é que tudo aconteceu muito rápido. O primo mal
tinha fechado o portão quando ouviu os tiros.
No dia seguinte, a notícia se espalhou. Na escola, ninguém acreditava no
boato de que o "Neguinho", como Willian era chamado, estava entre os
mortos. Mas, antes mesmo da confirmação, uma tia já tinha reconhecido,
na TV, os chinelos do menino em frente ao bar.
TAL PAI, TAL FILHO
Nada foi fácil para a família de Willian. Lilian Oliveira demorou seis
meses para perceber que estava grávida. "A barriga não crescia", conta.
Quando Willian nasceu, ela tinha 15 anos. "Foi um susto."
A jovem se virou como pôde. Quando o menino tinha três anos, perdeu o pai, que trabalhava em uma fábrica.
O que não dava para prever é que pai e filho teriam mortes semelhantes.
Ezequiel de Souza, 24, foi morto a tiros em um bar, também na
Brasilândia, por ter testemunhado o assassinato de um amigo.
Lilian casou com outro homem, teve uma filha, se separou e, hoje, é
faxineira. Ao resumir o que sente, é direta: "Não tenho medo. Só
tristeza".
Katia não tem esperanças de que o culpado seja preso. "Uns coitados como
o Willian, que não têm nome, não têm dinheiro, nunca ninguém vai
descobrir quem matou."
A polícia disse apenas que investiga o caso.
Colaborou
AFONSO BENITES