quarta-feira, 18 de julho de 2012

Francisco Cândido Xavier - Uma década de saudade (Por: Edson Neves dudu-neves1@hotmail.com)



Neste sábado, dia 30 de Junho, faz dez anos que Chico Xavier está no plano espiritual. Uma década de saudade...
O que falar de Chico Xavier ?
Muitas, muitas coisas...
Chico Xavier nasceu em 2 de Abril de 1910, na pequena cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Mineiro, pobre e órfão de mãe....
O que esperar deste menino de Pedro Leopoldo, que dizia ver e conversar com os “mortos”, que foi chamado de louco, de endemoniado?
A princípio, quase nada a esperar, a não ser sua internação em uma instituição para desequilibrados mentais.
Mas, felizmente, não foi o que ocorreu...
Chico passou por diversas privações e sofrimentos quando criança, os quais sempre conseguiu superar com o auxilio de sua mãe, desencarnada quando ele contava com cinco anos de idade, que lhe aparecia em Espírito.
Este menino vinha a Terra com uma missão: divulgar a Doutrina Espírita, a duras penas: sofrendo perseguições, sendo acusado de fraudes com suas psicografias, ser humilhado, sofrer com as doenças que o acometiam: atormentado pela angina, castigado pela catarata, abalado por sucessivas crises de pneumonia, Chico continuou a trabalhar sem descanso, quase sem queixas. Exercitou ao máximo, além dos próprios limites, o sentido de aceitação. Ele não só aceitava as dores, doenças e obstáculos da vida, como agradecia por eles. O sofrimento era uma “benção”, o caminho mais curto para resgatar dívidas passadas, aprender, evoluir.
Em 08 de julho de 1927, Chico Xavier recebe sua primeira psicografia num Centro Espírita.
Em fins do ano de 1931, já com diversos escritos psicografados, Chico teve seu primeiro encontro com o Espírito Emmanuel, que solicitou seus préstimos para o trabalho de divulgação, exigindo-lhe apenas que cumprisse três pontos básicos: disciplina, disciplina e disciplina.
Em 1932, foi lançado seu primeiro livro, o “Parnaso de Além Túmulo”.
Os livros foram se sucedendo. Poucos escritores brasileiros conseguiam vender tanto quanto Chico. Mas ele nunca ficava com um centavo. Os direitos autorais integrais eram destinados às obras assistenciais da Federação Espírita Brasileira e outras instituições de caridade.
Logo no início de suas atividades mediúnicas, Chico Xavier experimentou a implacável perseguição do clero, que tudo fez para afastá-lo de sua tarefa missionária.
Suportou as mais terríveis calúnias e as mais difíceis provas de humildade.
Inconformada de perder terreno para o Espiritismo, a Igreja tentava desmoralizar aquele que, à época, sem dúvida, era o principal responsável no Brasil, pelo avanço da doutrina codificada por Allan Kardec.
As paredes do Centro Espírita “Luiz Gonzaga”, em construção, eram levantadas durante o dia e derrubadas à noite!...
Chico soube superar em silêncio, sem revidar à menor ofensa recebida.
Certa vez, um bispo de Belo Horizonte resolvera excomungá-lo até a “quinta geração”... Lourdes, irmã de Chico e fervorosa católica, voltou em lágrimas para casa após a missa e contou ao Chico que ele havia sido excomungado.
Chico respondeu-lhe: ”Não se preocupe com este assunto de excomunhão, pois já consultei o dicionário e excomungados estão todos aqueles que hoje, por exemplo, sendo católicos, ainda não comungaram...Se você não teve oportunidade de comungar hoje na missa, está ex-comungada... E quanto eu ter sido excomungado até a 5ª geração, não se preocupe com isto, pois não vai haver nem a 1ª.!... Você está desperdiçando as suas lágrimas...”
Não obstante, dividindo opiniões entre os opositores declarados da Doutrina, em geral a vida e o trabalho de Chico Xavier sempre mereceram o respeito dos adeptos menos ortodoxos de outras crenças religiosas, como é o caso do teólogo Frei Beto, que disse à revista “Época”, em 1990: “As escrituras registraram que Jesus passou a vida fazendo o bem. O mesmo se aplica a Francisco Cândido Xavier, o mais famoso kardecista brasileiro e um dos autores mais lidos do País. Chico Xavier é cristão na fé e na prática. Famoso, fugiu da tribuna. Poderoso, nunca enriqueceu. Objeto de peregrinações a Uberaba jamais posou de guru. Quem dera que nós, católicos, em vez de nos inquietarmos com os mortos que escrevem pela mão de Chico, seguíssemos, com os vivos, seu exemplo de bondade e amor!”.
Quando sentia o coração oprimido, por tantas ofensas recebidas, deixava suas lágrimas de dor banharem seu rosto, isolado em seu quarto.
Quando estava atendendo às pessoas, principalmente aquelas que o procuravam para obter o consolo pela perda de filhos e entes queridos, Chico sofria, experimentava a dor de cada uma das pessoas, com extremado amor...
Chico tinha uma sensibilidade mediúnica que lhe permitia, por vezes, ao olhar as pessoas, saber quando e como elas haveriam de desencarnar.
E este fato lhe causava profunda tristeza, já que não poderia interferir na Lei do Carma, então ele pediu a Emmanuel que lhe fosse bloqueada tal possibilidade, ao que de pronto, o Mentor o atendeu.
Amor, humildade, bondade, caridade, doação... estes atributos acompanharam Chico Xavier durante todos os dias ao longo de seus 92 anos....
A doação foi exercitada por Chico ao extremo: ele doava o seu tempo, sua energia, sua paciência todos os dias, e muitas vezes, recebia em troca desaforos, ataques, insultos...
Chico foi movido, do inicio ao fim de sua trajetória, pela certeza de que tinha uma missão a cumprir. Sua fé nesta missão era tanta que ele abriu mão de tudo: dinheiro, sexo, a chance de construir a própria família, para se dedicar a divulgar a Doutrina Espírita e difundir a prática da caridade no Brasil. “Ajudai-vos uns aos outros” era o remédio receitado por Chico para todos os males. “Ajude e será ajudado”, ele aconselhava aos desesperados, e seguia à risca a própria receita.
Pouco depois ingressava na Fazenda Modelo, órgão do Ministério da Agricultura, no cargo de auxiliar de serviços. Funcionário exemplar, nunca faltou ao serviço. A responsabilidade de Chico aumentou. Para atender a todos, multiplicou-se. Nas sessões públicas, psicografava cerca de 700 receitas, a maioria delas, ditadas pelo Espírito do médico Bezerra de Menezes.
No dia 8 de julho de 1977, Chico completou 50 anos de Mediunidade. E ao ser indagado se considerava ser um privilegiado, respondeu:
“Nunca me identifiquei na condição de um ser privilegiado. Perdi minha mãe ao cinco janeiros de idade. Fui entregue a um lar estranho ao que me vira nascer, onde, felizmente, apanhei muitas surras. Comecei a trabalhar aos dez anos de idade, numa fábrica de tecidos, onde estive por quatro anos.
Adoecendo dos pulmões por excesso de pó, ao respirar com meu corpo ainda frágil, passei imediatamente a servir na condição de caixeiro, num pequeno armazém, onde dividia o trabalho entre vendas e os cuidados com a horta dos proprietários, num esquema de horários que ia das sete da manhã ás nove da noite. Em 1931, entrei para o Ministério da Agricultura, ao qual servi por trinta e dois anos consecutivos. Adoeci dos olhos, igualmente em 1931 e perdi totalmente a visão do olho esquerdo, há quarenta e seis anos. Já passei por cinco operações cirúrgicas de grande risco; sempre lutei com doenças e conflitos em meu corpo e em minha mente, e por fim, sou agora portador de um perigoso processo de angina, com crises periódicas que me levam a moderar todos os meus hábitos. Com tantos problemas que vão se ajuntando a viver e a compreender a vida, não sei que privilégio a mediunidade teria trazido, em meu favor. Digo assim porque se completo agora 50 anos sucessivos de tarefas mediúnicas ativas, também completei quarenta anos de trabalho profissional intenso, em 1961, de cuja aposentadoria trouxe a consciência de não haver faltado com as minhas obrigações. E pode crer você que falando ao nosso Emmanuel sobre isso, ele me disse não ver qualquer vantagem a meu favor, porque apenas tenho procurado cumprir o meu dever e reconheço, de minha parte, que meus deveres são imperfeitamente cumpridos.”
Em 1981, com 70 anos de idade e 200 livros psicografados, Chico foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, em campanha nacional embalada por mais de 2 milhões de assinaturas de adesão.
Chico foi um homem escolhido para ser o tradutor entre o mundo dos mortos e o mundo dos encarnados.
E a divina tarefa do médium Chico Xavier continuou sem que um precioso minuto fosse perdido, apesar de todas as suas dificuldades físicas, vindo a psicografar
412 obras, sem contar a sua incansável dedicação em benefício dos mais necessitados, atendendo, semanalmente, a centenas de pessoas na Vila dos Pássaros, com alimentos e palavras de conforto e esperança.
Ao desencarnar, as obras de Chico Xavier, até então publicadas, perfaziam o total de 412. As demais vêm sendo editadas de maneira póstuma, com material inédito por ele deixado, totalizando hoje mais de 450 livros publicados. Chico desencarnou no dia 30 de junho de 2002, em Uberaba, aos 92 anos de idade, quando faltavam 8 dias em que seria alvo de uma série de homenagens e comemorações: os 75 anos de sua mediunidade, 75 anos dedicados à causa da Doutrina Espírita, como um dos mais legítimos discípulos de Jesus.
Quando a notícia sobre seu desencarne se espalhou, fogos de artifícios ainda espocavam nos céus de Uberaba e do Brasil. O país festejava a conquista do pentacampeonato da Copa do Mundo de futebol....
Chico cumpriu sua promessa: desencarnou em um dia em que todos os brasileiros estavam felizes...
Pensamentos de Chico Xavier:
“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.”
“Não me casei, mas em compensação, duas senhoras vieram morar comigo. Uma delas chegou quando eu era mais moço – D.Catarata e, desde essa época, não mais me deixou. A outra veio mais recentemente: é a D.Angina. É mais exigente, de trato muito difícil. E eu tenho que me render às exigências das duas senhoras, sob pena de sofrer muito nas mãos delas.”
“Se eu fosse esperar melhores condições espirituais para servir, até o presente momento, eu não teria começado.”
CURIOSIDADES
Em 1971, Chico participou do programa Pinga-Fogo, um programa de entrevistas, líder de audiência.
Segundo Nena e Francisco Galves, que hospedaram Chico na véspera do programa, ele passou a noite em claro, pedindo ajuda ao Espírito Emmanuel, caminhando pelos jardins da casa.
O livro “Parnaso de Além Túmulo, com sua 1ª edição em 1932, foi na verdade um livro que durante 23 anos foi sendo formado pelo Chico Xavier e pela Federação Espírita Brasileira. Apenas em 1955, saiu a edição definitiva do livro, em termos de número de poemas e número de autores, porque o livro sofreu uma série de acréscimo de poesias e de autores ao longo destes 23 anos.
Bibliografia
100 Anos de Chico Xavier Fenômeno Humano e Mediúnico – Carlos A Bacelli
Até Sempre Chico Xavier – Nena Galves
As Vidas de Chico Xavier – Marcel Souto Maior
Chico Xavier – A história do filme de Daniel Filho – Marcel Souto Maior
As Lições de Chico Xavier – Marcel Souto Maior
Pinga Fogo com Chico Xavier – Saulo Gomes
Caminho Espírita – Chico Xavier – Espíritos Diversos
Paz e Renovação – Chico Xavier – Espíritos Diversos
Rosana A. Souza

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