O ANDARILHO - PARTE I
Era um final de tarde de uma sexta-feira, mês de outubro
do ano de mil novecentos e oitenta e nove, e eu retornava de uma viagem de
férias ao Litoral Norte gaúcho, juntamente com minha esposa e nossos dois
filhos, hoje ambos criados e vivendo suas próprias vidas de adultos.
Tínhamos parado o nosso carro em um posto de gasolina,
situado a poucos quilômetros da entrada da cidade e, enquanto esticávamos as
pernas um pouco, aproveitei para preparar o meu chimarrão, que já pronto,
sorvia lentamente como de costume para saboreá-lo melhor.
E assim, distraído, estava eu ali, sentado sobre o cordão
da calçada e observando os fatos, que ocorriam ao meu redor.
E foi no exato momento em que eu servia mais um chimarrão,
que ouvi um barulho e pude ainda observar o veículo enorme freando. E em um
olhar mais atento, notei a silhueta de um homem que era atropelado pela lateral
esquerda do veiculo e jogado ao chão. Confesso que quando me dei pr conta, lá
estava eu com o atropelado e lhe prestando as primeiras assistências, pois, sou
socorrista básico. E ainda estupefato o motorista tentava de todas as maneiras possíveis se
justificar, mas a vitima, me deixava transparecer que não estava nem ai. Em sua
primeira fala o homem, um sujeito magro, de cor branca, aparentando uns
cinqüenta anos mais ou menos, vestia o que sobrou do que outrora foi uma roupa
social fina e cara, disse: com voz forte e pausada “ – Você não é culpado de
dana meu caro motorista, a culpa foi minha; Toda minha. Fique sabendo que não
quero prestar queixas e nem fazer boletins de ocorrências nenhuma, a acalme-se
ai que eu não estou ferido, apenas tenho alguns arranhões pequenos sem
importância; estou bem. Você, meu caro motorista, é que não competente para dar
cabo de mim.
Fiquei sensibilizado com o que ouvi o homem dizer,
aproximei-me e ofereci minha ajuda para curar
seus ferimentos, que na verdade eram alguns pequenos arranhões sem
gravidade.
Coloquei o homem na parte de trás da camioneta e o levei
até a minha casa. Curei suas feridas; dei-lhe roupas limpas, fiz o mesmo tomar
um bom banho, barbear-se, e depois, uma refeição que o mesmo devorou
vorazmente. Depois de todos esses procedimentos, hospedei-o em um dos quartos
da casa principal e não demorou muito e lá estava o homem mergulhado em sono
profundo.
E havia transcorrido alguns dias, quando a tardinha eu
chegava do trabalho e me deparei com o “estranho hóspede” ensinando língua
inglesa para as crianças, demonstrando um bom conhecimento do assunto. È
preciso dizer que aquele estranho sujeito, em poucos dias, cativou a todos nós
e tornou-se amigo das crianças e de seus
pais. Nem parecia mais com aquele
individuo transtornado do dia do acidente. Passou a acordar cedo, lia todos os
jornais e
( Continua no próximo domingo...)
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